Título: Emprego industrial chega ao fim do ano em estagnação
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2005, Economia & Negócios, p. B6

Câmbio provoca queda no número de trabalhadores e na folha de salários

O mercado de trabalho industrial piorou em outubro, com queda no número de trabalhadores e na folha de pagamento real do setor. Para Isabella Nunes, economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria chega ao quarto trimestre confirmando 2005 como um ano "em que o emprego não se moveu". Segundo ela, os resultados de outubro refletiram o baixo nível de atividade econômica e a valorização do real, que afeta os segmentos industriais mais empregadores, como tecidos e têxteis. Houve queda de 0,1% no pessoal ocupado em outubro ante setembro e recuo de 0,2% ante outubro do ano passado. A folha de pagamento real caiu 1,6% ante setembro, mas manteve o crescimento (2,5%) ante igual mês de 2004. Segundo Isabella, setores como calçados e têxteis sofrem com o câmbio tanto na queda das exportações quanto no aumento das importações, que acirra a concorrência com produtos estrangeiros no mercado interno.

Os técnicos do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) divulgaram documento sobre a pesquisa e compartilham da avaliação da economista do IBGE. Para o Iedi, o cenário do emprego industrial "é de estagnação na margem, muito embora, como fruto do dinamismo herdado de 2004, devamos fechar o corrente ano com uma variação do emprego na indústria próxima a 1,5%, enquanto no ano anterior esse aumento chegou a 1,8%".

Segundo o IBGE, o número de ocupados cresceu 1,5% no acumulado de janeiro a outubro. Para o Iedi, a "parada" na margem do emprego industrial "decorre da desaceleração que a produção industrial brasileira em média vem sofrendo, especialmente no segundo semestre deste ano". "Decorre ainda de graves distorções setoriais que vêm ocorrendo na indústria em função, principalmente, da excessiva valorização do real", acrescenta o instituto.

As contribuições negativas mais significativas para o emprego industrial em outubro ante igual mês do ano passado foram dos segmentos de calçados e artigos de couro (-14,1%) e madeira (-14,4%). O IBGE não abre setorialmente os dados em relação ao mês anterior. No acumulado do ano, calçados e couro (-11,4%), madeira (-7,6%) e vestuário (-3,4%) foram os principais destaques negativos.

No caso da folha de pagamento, Isabella Nunes observa que a queda em outubro ante setembro foi resultado do repique da inflação (IPCA de 0,75% no mês) e não anula os ganhos observados na folha ao longo do ano, resultado especialmente da queda nos índices de inflação em relação ao ano passado.