Título: Dívida cambial pode zerar este ano
Autor: Fabio Graner, Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2005, Economia & Negócios, p. B5

Participação dos papéis em dólar no total recuou para R$ 31,45 bilhões em novembro, o mais baixo da história,

O governo poderá quitar este ano a dívida pública interna corrigida pelo dólar, a exemplo do que fez com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em novembro, a dívida cambial recuou R$ 4 bilhões, para R$ 31,45 bilhões, segundo dados divulgados ontem pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central (BC). Esse valor representa 3,28% da dívida interna total, índice mais baixo da série histórica. Se o BC mantiver o ritmo, essa dívida cairá a zero até o fim do ano. Em relação à dívida total, a situação não é tão boa. Em novembro, subiu R$ 22,16 bilhões, a segunda mais alta do ano, para R$ 959,5 bilhões. Dessa expansão, R$ 9,9 bilhões foram da venda de novos títulos para engordar o caixa do Tesouro. Os restantes R$ 12,2 bilhões referem-se a juros e outros encargos. No ano, o aumento da dívida chega a R$ 150 bilhões. Desse total, R$ 22,9 bilhões são de novos lançamentos de títulos e o restante, R$ 126,3 bilhões, de juros e outros encargos.

Mesmo assim, o Tesouro está satisfeito com os resultados deste ano. O motivo é que a dívida tem crescido com melhor perfil para ser administrada. Ou seja, o Brasil deve mais, mas tem mais capacidade para pagar a dívida. "O ano foi muito positivo para a administração da dívida", afirmou o coordenador-geral da Dívida Pública, Paulo Valle.

Na melhora de perfil, destaca-se, além da menor participação de títulos cambiais, o crescimento do porcentual de papéis prefixados, considerados de melhor qualidade por terem taxa de juros definida, o que dá maior previsibilidade para o Tesouro organizar o caixa. Em novembro, esses títulos chegaram a 26,88% da dívida interna, ante 24,48% em outubro e 20,09% em dezembro de 2004.

Outra notícia considerada boa pelo governo foi a queda da participação dos títulos vinculados aos juros básicos (Selic), em novembro. Esses papéis representaram 53,21% do total, ante 55,68% em outubro. Mas, no ano, a participação desses títulos subiu, pois em dezembro de 2004 equivaliam a 52,41%.

O que o Tesouro festejou mesmo em novembro foi o forte aumento nas vendas das NTN-Bs, títulos que garantem juros mais a inflação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Há três meses, o governo vem se esforçando para vender mais esses títulos, cujos principais compradores são os fundos de pensão, que têm compromissos com seus participantes de garantir pelo menos a inflação para seus investimentos. E, segundo Valle, a queda na Selic está estimulando os fundos a comprar mais esses títulos.

Em novembro, o Tesouro vendeu o volume recorde R$ 8,8 bilhões em NTN-Bs. Com isso, a participação dos títulos indexados a índices de preços subiu de 13,85% em outubro para 14,46% em novembro. O recorde de vendas desses títulos já foi superado neste mês. Até o dia 14, foram vendidos R$ 24,3 bilhões e, segundo Valle, esses papéis não serão mais vendidos este mês.