Título: Sem BC, dólar pode cair de novo
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2005, Economia & Negócios, p. B4

Economistas se dividem sobre o futuro do mercado de câmbio sem as intervenções diárias

A atuação do Banco Central (BC) foi decisiva para reverter o movimento que parecia levar o dólar para abaixo de R$ 2. Esse é um consenso entre os especialistas sobre o comportamento do câmbio. Mas eles se dividem quando analisam se a alta desta semana veio para ficar. De 1º de dezembro até ontem, dólar subiu 6,39%. Neste mês, a autoridade monetária, além de prosseguir comprando dólares à vista, passou a fazer diariamente contratos de swap cambial reverso, cujo efeito é semelhante à compra de dólares à vista, mas sem envolver dinheiro físico.

No swap reverso há duas pontas: em uma, o BC fica como se tivesse comprado dólares e na outra, como se tivesse feito um empréstimo cuja taxa de juros é o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que remunera empréstimos entre bancos. Quando o BC vende swap reverso, é como se a procura por dólares aumentasse e o seu preço tende subir.

Foi que ocorreu neste mês. O BC vendeu US$ 6,6 bilhões desses contratos até ontem. Desde então, o dólar saltou de R$ 2,20 para R$ 2,40, na segunda-feira. Ontem, voltou a cair (R$ 2,346) porque o BC vendeu menos contratos que nos dias anteriores.

Para o estrategista da ARX Capital e ex-chefe do Departamento de Mercado Aberto (Demab) do BC, Sérgio Goldenstein, a autoridade monetária fez certo em agir com mais força no mercado de câmbio. Segundo ele, havia uma ¿bolha especulativa¿ que poderia levar o dólar a R$ 1,90.

¿O BC mostrou ao mercado que o dólar pode ir para os dois lados, não só para baixo¿, afirmou. Ele espera que o dólar encerre o ano na faixa que encontrou na semana passada, entre R$ 2,30 e R$ 2,40. ¿Se o BC mostrar fraqueza, o câmbio volta para onde estava¿, disse.

Goldenstein avalia também que o BC pode lançar mão de outros instrumentos para atuar no mercado, como, por exemplo, a compra de dólares no mercado futuro ou contratos de opções de compra, em que se compra um direito de adquirir dólar por um determinado preço no futuro. ¿Com o pagamento antecipado ao FMI, o Brasil está livre para usar esses instrumentos do mercado de derivativos.

Acho que o mercado não está vendo isso¿, observou. O economista Caio Meghali, da Mauá Investimentos, acha que o BC tende a reduzir a atuação no mercado, após ter entrado fortemente para romper ¿um processo altamente especulativo¿.

Para ele, a redução no volume de contratos de swap reverso indica esse movimento. ¿A impressão que tenho é que o BC quis equilibrar o mercado e, aos poucos, vai sair e deixar o câmbio seguir de acordo com os fundamentos da economia.¿

O estrategista do Banco BNP Paribas, Alexandre Lins, vê na atuação do BC uma oportunidade de tempo limitado para os exportadores venderem seus dólares por preços melhores. Sem a atuação do BC, Lins avalia que o dólar tende a cair para menos de R$ 2,175.

O economista Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP, considera que o BC pôs o dólar em novo patamar e sua valorização será natural com os cortes nos juros. Para ele, um dos desafios do BC será reduzir a volatilidade do câmbio, tão prejudicial ao setor produtivo quanto a valorização excessiva do real.

Efeito: É um contrato com efeito semelhante ao da compra de dólares no mercado à vista. Quando o Banco Central (BC) vende o swap reverso, é como se a procura por dólares aumentasse e, pela lei da oferta e da procura, o preço tende a subir. Compromisso: O BC tem vendido diariamente contratos de swap reverso. É como se estivesse comprando dólares todo dia, mas, na verdade, está só assumindo um compromisso de compra.

Juros: No swap reverso, é como se o BC estivesse comprado dólares e, na mesma operação, passasse a dever em taxa de juros CDI, que é a taxa que vigora nos empréstimos feitos entre os bancos.

Ganho: Grosso modo, se num determinado período o dólar variar mais que a taxa de juros que o BC deveria pagar, o BC ganha.

Cupom: O BC também ganha uma taxa de juros, definida na hora da venda do contrato, chamada de cupom. Quanto maior for o cupom na hora do leilão, mais interessante é o contrato para o BC.

Exemplo: Se em um mês o real se desvalorizar 5% e o cupom definido no contrato for correspondente a 0,5% para um mês, o BC ganhou cerca de 5,5% no período; se o CDI pagou 1,5% de juro, o ganho final efetivo do BC foi de aproximadamente 4%.