Título: Ação do BC afeta juros e câmbio
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2005, Economia & Negócios, p. B2

O mercado de câmbio passou por um teste interessante nos últimos dias. A forte intervenção do Banco Central (BC) -"swap"reverso, compra à vista de dólares - conseguiu produzir uma desvalorização do real de 9,4% em nove dias. Paralelamente, os juros começaram a subir. Ontem, com menor agressividade do BC no mercado, registrou-se uma retomada da valorização do real ante o dólar, chegando a 2% no início da tarde e caindo um pouco no final. As queixas dos empresários contra uma taxa de juros elevada eram de que isso favorecia a valorização excessiva do real, o que, por sua vez, justificava demandas para redução da Selic e para uma intervenção agressiva do BC no câmbio. A Selic foi timidamente reduzida, enquanto o BC aumentava sua agressividade. A taxa cambial melhorou para os exportadores, mas a taxa de juro baixou somente no mercado futuro. Ontem o BC amainou sua agressividade, reduzindo de 12.500 para 8.300 os contratos de "swap", o que se traduziu por valorização do real ante o dólar e queda da taxa de juros no mercado futuro. A dúvida no mercado é se o BC assim agiu por considerar satisfatória a taxa cambial e para reduzir o montante de operações bastante custosas ou se não teve consciência dos efeitos da sua decisão. É provável que a desvalorização registrada anteontem levou os exportadores a fechar o câmbio rapidamente, o que aumentou a oferta de divisas no mercado, enquanto no mesmo momento os bancos estavam reduzindo sua posição comprada. O que é certo é que esse episódio mostrou a grande dependência do mercado cambial em relação a intervenções do BC, que não poderão ter caráter permanente. A obtenção de uma taxa cambial adequada na realidade depende da administração da oferta de divisas, o que exigiria profunda modificação da política cambial. Parece-nos perigoso que os exportadores dependam da continuidade de forte intervenção do BC no mercado. Estima-se que o BC comprou, neste ano, diretamente no mercado, cerca de US$ 20 bilhões, ante US$ 5,3 bilhões em 2004. Com a elevação das reservas e o pagamento antecipado da dívida com o FMI, o interesse das autoridades monetárias em comprar divisas poderá se reduzir bastante. É necessário ter presente que a valorização do dólar poderá ter efeitos sobre a economia nacional. Um deles sobre a taxa de inflação e, com isso, as autoridades monetárias, com seu vezo ortodoxo, talvez resistam a reduzir a Selic. As importações perderão algum estímulo, mas não é certo que as exportações de produtos que tenham componentes importados permaneçam competitivas.