Título: CNI: País vai crescer 3,3% em 2006
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

Entidade industrial prevê expansão modesta com retomada da atividade, juros em queda e real desvalorizado

A economia brasileira deve ter um desempenho melhor em 2006 mas ainda modesto, segundo estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A entidade projeta crescimento de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB), sustentado pela retomada da atividade industrial. Embora a estimativa seja muito melhor que os 2,5% previstos para este ano, ainda está muito aquém dos 4,9% de crescimento de 2004. A CNI prevê também a retomada dos investimentos, a continuidade da trajetória de queda dos juros e uma reversão no processo de valorização do real em relação ao dólar em 2006. A inflação, segundo as estimativas, deve ficar em 4,7%. Logo, dentro da margem de tolerância de 2 pontos da meta do governo, que é de 4,5%.

"Há dados no curto prazo interessantes que podem nos autorizar a fazer uma previsão razoavelmente otimista para 2006. O mundo continua crescendo, e essas condições são importantes para o País. Outro ponto é que a política monetária, que tem sido extremamente hostil à atividade econômica, está sendo flexibilizada. Todas as expectativas vão na direção de uma taxa de juros média menor que a de 2005", afirmou o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, ao divulgar o documento Informe Conjuntural de dezembro, com o desempenho e as perspectivas da economia brasileira.

GASTOS

"É preciso atuar sobre os fatores que estruturalmente limitam o desempenho da economia brasileira. E aí não há dúvida que a questão fiscal é central nesse processo de ajuste da economia brasileira", disse Monteiro Neto. Segundo ele, o governo tem obtido superávits primários (economia para pagar a dívida pública) graças a um aumento da carga tributária.

"Se associarmos esse quadroa um ano eleitoral sempre marcado por maior expansão do gasto público, e eu espero que seja na direção de mais investimento e menos gasto corrente, teremos um efeito estimulador para a economia." Monteiro Neto alerta para o risco de uma deterioração do cenário político levar a medidas de política econômica menos comprometidas com a estabilidade e com o crescimento de longo prazo.

A CNI estima ainda que a produção industrial deve crescer 4,2% do PIB em 2006, puxada pelo aumento da demanda interna e das exportações. O documento alerta, no entanto, que as vendas externas vão continuar crescendo na esteira da ampliação da demanda mundial. A previsão da entidade é de um saldo comercial de US$ 43,5 bilhões em 2006, resultado de exportações de US$ 130 bilhões e importações de US$ 86,5 bilhões. As importações devem crescer 18% em relação a 2005, um ritmo mais acentuado que as exportações, que devem aumentar 10%.

É justamente a queda no ritmo de crescimento das vendas externas, associada à decisão do Banco Central de comprar dólares para recompor as reservas internacionais, que faz com que a CNI preveja uma recuperação no valor da taxa de câmbio em 2006.

"Esses fatores vão diminuindo a pressão gerada pela oferta de dólares", disse o chefe do departamento econômico da CNI, Flávio Castelo Branco. Ele acredita que a trajetória de queda das taxas de juros também deve desvalorizar o real. Para a CNI, a taxa de câmbio deve retomar o nível de R$ 2,50 em dezembro de 2006. A taxa básica de juros, hoje em 18%, deve fechar 2006 em 15% ao ano, segundo a estimativa da entidade.