Título: Evolução vence criacionismo em processo nos EUA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2005, Vida&, p. A18

Juiz federal define que desenho inteligente não é ciência e recoloca Darwin na sala de aula

HARRISBURG, PENSILVÂNIA O juiz federal dos Estados Unidos John E. Jones III decidiu ontem que o desenho inteligente (ID na sigla em inglês) - crença de que a evolução não é suficiente para ter formado a vida, processo que exigiria um "criador" - não pode ser mencionado em aulas de biologia em um distrito escolar da Pensilvânia. A decisão pode abrir um precedente para que outros distritos repensem o ensino do ID, em detrimento à teoria de seleção natural desenvolvida por Charles Darwin, em escolas públicas americanas. O movimento cresceu nos últimos anos em Estados conservadores, como Kansas, Ohio e Minnesota.

Segundo Jones, o Comitê Escolar da cidade de Dover violou a Constituição americana quando ordenou que o currículo das classes de biologia incluíssem o ID em outubro de 2004. "Os cidadãos de Dover estavam fracamente representados pelos membros do comitê que votaram a favor do ID", escreveu Jones. "É irônico que diversos desses indivíduos, que tão firme e orgulhosamente defendem suas convicções religiosas em público, mentiriam para cobrir suas pistas e disfarçar o propósito real por trás da defesa do ID", escreveu o juiz na decisão.

O propósito é a disseminação do criacionismo, movimento religioso que defende a criação da Terra exatamente como é descrita na Bíblia. O planeta, segundo os criacionistas, não tem mais do que alguns milhares de anos e não milhões, como indicam os cientistas.

O processo foi movido por 11 pais descontentes e o julgamento durou seis semanas. De ambos os lados , os advogados discutiam o que é consenso científico, assim como o que deve ser levado à classe. Jones concorda com a argumentação da acusação: o desenho inteligente, diz ele, é "um pretexto" com o propósito real inconstitucional de "promover a religião nas escolas públicas".

A advogada de acusação Christy Rehm disse estar "extasiada" com a decisão: "É uma vitória da ciência e da educação científica". Diversos grupos americanos contrários ao criacionismo comemoraram.

Richard Thompson, chefe da equipe que defendeu o comitê, disse em uma nota que "os fundadores do país ficariam surpresos com o pensamento de que essa simples mudança curricular era uma violação da Constituição que desenharam". Os membros do comitê não decidiram se apelarão da decisão.

Apesar de não defender abertamente o criacionismo, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, é simpático à sua exposição. Ontem, o porta-voz da Casa Branca Scott McClellan disse que Bush acredita que comitês locais de educação devem ter liberdade para decidir o programa curricular e "também acredita que os estudantes devem ser expostos a teorias e idéias diferentes para poder entender completamente o debate".

No Brasil, escolas estaduais do Rio incluíram lições criacionistas no ano passado. A governadora Rosinha Garotinho, evangélica, já disse não acreditar na teoria de Darwin.