Título: Partidos querem impor condições para apoio
Autor: João Domingos, Leonencio Nossa e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2006, Nacional, p. A4

O PC do B, aliado histórico do PT, espera uma mudança efetiva do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 para que a legenda apóie a reeleição do presidente. "Não existe apoio incondicional. O Lula tem de sair da retórica. Parar de falar que 2006 vai ser o ano do desenvolvimento, que o País vai crescer mais. Tem de mostrar na prática", cobrou o presidente do PC do B, Renato Rabelo. "Sem isso, fica até difícil darmos apoio à candidatura do presidente", prosseguiu. Rabelo sugere que, alcançada a estabilidade econômica e assegurado o controle da inflação, o presidente dê uma sinalização aos setores da produção e do trabalho. "Assim como ele fez uma carta ao povo brasileiro para tranqüilizar o sistema financeiro, deveria agora dar uma sinalização em prol do desenvolvimento", comentou, insistindo que a mudança é fundamental não apenas para um segundo mandato, mas sobretudo no último ano do primeiro governo de Lula. "É preciso haver essa repactuação", observou. "A hora é de ações para o desenvolvimento, com investimentos públicos e privados e geração de emprego e renda."

Segundo o presidente do PC do B, o partido deverá fechar sua posição em relação às eleições de 2006 entre o fim de março e início de abril.

O PSB, outro partido aliado, condiciona oficialmente o apoio à reeleição de Lula a uma nova diretriz para o governo e à certeza da viabilidade eleitoral do presidente depois do desgate de um ano de crise política. "Ainda temos muito o que discutir. Vamos ter uma reunião com o presidente e com o PC do B e queremos avançar (em prol da aliança)", afirmou o presidente do PSB, deputado Eduardo Campos (PE).

Para Campos, ex-ministro do governo Lula, o apoio à reeleição esbarra na discussão sobre o programa do PT. "Não dá para sair com candidato, de novo, com carta de quatro anos atrás", afirmou ele, referindo-se à Carta ao Povo Brasileiro.

Na prática, sabe-se que tanto o PC do B como o PSB darão aval a Lula. De qualquer forma, as declarações dos dirigentes dos dois partidos demonstram a fragilidade do presidente nesse momento.

FIDELIDADE

Já no PL, partido envolvido no escândalo do mensalão, o apoio à reeleição é declarado com todas as letras. Em 2002, a sigla foi aliada de peso - tanto que indicou José Alencar como candidato a vice-presidente.

"O interesse é repetir a aliança nacional . O PL é o partido da primeira hora. Estamos com Lula desde a eleição e na administração fomos a bancada mais fiel aos interesses do governo", disse o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, por sua Assessoria de Imprensa. Costa Neto foi o primeiro deputado a renunciar ao mandato por suposto envolvimento no esquema de propina a parlamentares da base aliada.

As alianças para as eleições de 2006, no entanto, estão condicionadas à quebra da verticalização. Sem ela, os aliados ficam engessados nas candidaturas estaduais, já que pela regra os partidos são obrigados a repetir nos Estados a coligação nacional.

Já o presidente do PMDB, maior partido do País e o mais cortejado na construção de alianças, Michel Temer, assegura que a legenda vai apresentar um adversário para Lula.