Título: Lula chama aliados e começa a montar campanha da reeleição
Autor: João Domingos, Leonencio Nossa e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2006, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se reunir na segunda quinzena deste mês com dirigentes de partidos aliados para começar a preparar sua candidatura à reeleição. Quer ver com quem pode contar e como estão os preparativos para a montagem dos palanques estaduais. Embora Lula diga que só vai decidir no meio do ano se disputará um segundo mandato, esse tema domina a agenda do governo e ontem, no Palácio do Planalto, só se falou nisso. "No governo, no PT, na base aliada, todo mundo considera certa a decisão do presidente Lula de disputar a reeleição", afirmou o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, que ontem pela manhã recebeu a ordem de organizar a reunião com os representantes dos partidos aliados.

A versão oficial é de que o encontro será para tratar de assuntos mais administrativos. "O presidente vai reunir os dirigentes partidários para saber se as reivindicações deles quanto a projetos a serem incluídos no orçamento da União foram atendidos e também para tratar das votações no Congresso", disse Wagner.

O ministro não escondeu, porém, que não há como abstrair a eleição de outubro de todas as conversas, de agora em diante. "O presidente está fazendo as contas. Em tese, ele tem até junho para se decidir, mas esse é um prazo longo, porque seria muito difícil o rearranjo partidário em tão pouco tempo, não só no PT e nos partidos da base, mas também na oposição", admitiu. Apesar de ressalvar que a decisão é "pessoal", Wagner observou que a candidatura de Lula deve ser anunciada logo depois do carnaval, em março.

CAMISA-DE-FORÇA

O governo torce pelo fim da verticalização, considerada uma camisa-de-força por obrigar que a coligação nacional seja reproduzida pelos partidos nas chapas estaduais. A decisão sobre a manutenção ou não dessa norma será tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ou pelo Congresso até março.

A preocupação de Lula é justamente com os palanques nos Estados. Motivo: depois da crise do mensalão, o PT só tem garantido o apoio dos pequenos PC do B e PSB. Aliado de maior peso político e mais tempo na TV para o horário eleitoral gratuito, o PMDB já avisou que lançará candidatura própria à sucessão de Lula. Estão no páreo o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, o presidente do STF, Nelson Jobim, e o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto.

"O fato é que Lula é o melhor candidato, ou único candidato do PT", insistiu Wagner. "Mas, se por acaso ele não concorrer, isso também não será um desastre, porque para cada situação encontra-se uma solução", corrigiu.

Apesar da crise e das pesquisas indicarem queda no índice de popularidade do presidente, o núcleo político do Planalto acredita que Lula ainda é um concorrente altamente competitivo. "Ninguém está com a taça na mão. O presidente, no entanto, é um candidato muito forte", argumentou Wagner.

Para ele, é exatamente por isso que a o PSDB e o PFL agem "de forma orquestrada", na tentativa de desgastar o governo. "Está na cara que a reação da oposição surge sempre depois que ela analisa as pesquisas eleitorais e constata que Lula é um candidato competitivo. Primeiro, o ex-presidente Fernando Henrique faz o ataque; depois, foi o senador Arthur Virgílio (líder do PSDB no Senado) e, em seguida, o deputado Alberto Goldman (líder tucano na Câmara). É sempre assim", afirmou. "Há seis meses, aliás, Fernando Henrique sugeriu que Lula nem se candidatasse à reeleição, em troca de ser feita uma oposição amena. Tirar o Lula da disputa é uma obsessão deles."

Mas, apesar de ser do PT, o senador Eduardo Suplicy (SP) também acha que Lula não deve disputar um segundo mandato. Suplicy esteve ontem no Planalto para desejar feliz ano-novo ao presidente e ponderar sobre a inconveniência de concorrer à reeleição neste momento. "Ele me convidou para ir à posse do novo presidente da Bolívia, Evo Morales, neste mês", contou o senador petista. "Vamos, então, conversar sobre as questões econômicas e sociais e sobre a reeleição, assunto que tem levado o presidente a fazer reflexões seguidas."

Suplicy lembrou que Lula sempre foi contra a reeleição. Na entrevista ao programa Fantástico, exibida no domingo pela TV Globo, o presidente afirmou que sua preferência sempre foi por um mandato maior, de cinco anos, para o chefe do Executivo.