Título: Ordem do Planalto é culpar somente o PT
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2006, Nacional, p. A5

Em busca da retomada de espaço no jogo político de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou ministros a responsabilizarem o PT por todas as denúncias de corrupção. Na primeira entrevista deste ano, no Palácio do Planalto, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, seguiu ontem a ordem do chefe e tentou desvincular o governo dos escândalos. "Cabe ao partido responder sobre as dúvidas que permaneceram na sociedade frente ao episódio que aconteceu", afirmou. "Foi o que ele (Lula) falou na última reunião ministerial." Wagner classificou como "tropeço" e "equívoco" o escândalo de corrupção que resultou na derrocada de toda a cúpula do PT, na cassação do deputado José Dirceu (PT-SP) e na queda de Lula nas pesquisas de opinião. "Na verdade, o prejuízo maior do PT foi que alguns de seus membros se deixaram tragar por uma máquina viciada, uma máquina que nós sempre criticamos", disse. "Essa é a dor maior da família petista como um todo e daqueles que acompanham e torcem pelo PT."

O ministro avaliou que a sangria no governo e no partido está "consolidada", previu novas cassações de parlamentares petistas e descartou a possibilidade de novas denúncias de corrupção. Culpou somente ex-dirigentes do partido, sem citar nomes. "Uma história de 25 anos do PT não se troca por um tropeço e equívoco de alguns dirigentes neste episódio todo."

Durante a entrevista, Wagner evitou citar nomes da cúpula do PT à época do escândalo do mensalão e do caixa 2, como o ex-presidente José Genoino, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o ex-secretário Sílvio Pereira. Minimizou o problema de corrupção e disse que o PT atuou de forma atabalhoada no uso e na busca por recursos. A uma pergunta sobre a conduta de Dirceu, o único petista cassado até agora, Wagner disse que o companheiro sofreu julgamento político. "Nada se provou contra ele."

O ministro acusou a oposição de "esticar" a crise política para aumentar o preço pago pelo PT. Definiu críticas dos adversários ao governo e ao partido como "figuras de retórica". "O PT já pagou o preço. O prejuízo e as perdas estão consolidados."