Título: Gás falta na UE e Rússia recua
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2006, Internacional, p. A9

A ameaça de uma crise de energia na Europa Ocidental em pleno pico do inverno fez a estatal russa Gazprom recuar ontem no corte de fornecimento de gás à Ucrânia, por onde passam gasodutos que transportam o produto para vários países. A interrupção no abastecimento da Ucrânia teve início no domingo, depois que o governo desse país se recusou a aceitar a nova tarifa da Gazprom, de US$ 230 por 1.000 m3 - mais de quatro vezes o atual preço, de US$ 50, subsidiado pela Rússia. A Gazprom exige que Kiev pague o preço do mercado internacional, mas o presidente Viktor Yushchenko quer um período de transição para a nova tarifa.

A queda no fornecimento chegou a 40% em alguns países e afetou, entre outros, Áustria, Itália, Hungria, Polônia e Eslováquia - todos membros da UE -, além da Sérvia, Romênia, Croácia e Moldávia. A Alemanha, principal parceiro comercial russo na UE e maior comprador da Gazprom, advertiu que iria repensar seu plano de aumentar a importação do produto se a Rússia não se comportasse "de modo responsável".

Um outro país fortemente prejudicado foi a Moldávia, que também se recusou a aceitar a tarifa elevada de US$ 80 para US$ 160 e teve seu suprimento cortado.

Depois de acusar a Ucrânia de roubar gás destinado aos outros países, a Gazprom anunciou que bombeará mais 95 milhões de metros cúbicos por dia "para garantir o suprimento" da UE e das outras nações. A Gazprom havia cortado 120 milhões de metros cúbicos (o total destinado à Ucrânia). Ou seja, o suprimento praticamente voltou ao nível anterior.

Autoridades ucranianas negaram ter se apropriado do gás destinado aos vizinhos. Disseram possuir reservas para várias semanas, mas admitiram que poderão desviar "o equivalente ao pagamento pelo uso de seu território como rota de passagem dos gasodutos". A Ucrânia importa da Rússia cerca de 30% do gás que consome e do Turcomenistão mais de 40%. O restante é de produção própria.

O recuo da Gazprom levantou dúvidas sobre se o governo russo, que detém 51% das ações da empresa, avaliou as conseqüências do corte de gás.