Título: 'Risco do País em 2006 é faltar mão-de-obra'
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/12/2005, Nacional, p. A4

O grande risco da economia brasileira, segundo um eufórico presidente Lula, é crescer tanto em 2006 que o País vai acabar tendo problemas em conseguir encontrar mão-de-obra especializada para suprir a demanda produtiva. Em conversa com os jornalistas, Lula admitiu que teve "um desapontamento" com a queda do PIB no terceiro trimestre, "que foi importante acontecer porque foi um sinal de alerta". Ele deu as razões para a queda: "Estávamos pisando muito no breque, foi preciso soltar o breque para o carro correr um pouco mais ligeiro." E revelou confiança no futuro: "Como nós somos muito jovens, vamos viver mais um ano e a gente vai ver o que vai acontecer."

Lula disse isso ontem na área de reciclagem da Coopamare (uma cooperativa de catadores de lixo), debaixo de um viaduto, na Avenida Sumaré, um terreno que a Prefeitura de São Paulo reclama na Justiça pelo risco potencial de incêndio. A Justiça concedeu reintegração de posse à Prefeitura em 1.ª e 2.ª instâncias.

A área do evento foi cercada por pilhas amarradas de papelão, garrafas pet e plásticos e teve até apresentação em datashow para mostrar ao presidente que as metas do convênio firmado pelo Ministério do Desenvolvimento Social com os catadores de lixo foram todas cumpridas. Entre elas, os catadores de rua realizaram 16 congressos estaduais, quando estavam previstos 14 e 12 encontros nacionais, em vez de 8.

Ao final do evento, o secretário de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo, Floriano Pesaro, se queixava de que os bons números do ministro Patrus Ananias ainda não chegaram à capital paulista. Segundo ele, o ministério está firmando convênios para a execução de projetos de "inclusão produtiva" com quase todas as capitais, mas recusou dois projetos apresentados pela Prefeitura de São Paulo. "Quero saber o porquê", dizia Pesaro.

PROVOCAÇÃO

Depois de uma seqüência interminável de pronunciamentos de catadores de lixo e moradores de rua, Lula se disse impressionado com o nível de consciência política dos oradores e afirmou que, frente a isso, não tinha dúvidas em dizer que "as coisas neste país começam a andar".

Voltou a usar a metáfora da semente, afirmando: "A gente planta uma semente e um dia passa lá e diz 'está brotando'." Ele respondeu a uma sucessão de pedidos para federalizar a investigação do assassinato de 8 moradores de rua, no centro de São Paulo, em agosto de 2004, crime até hoje não solucionado pela polícia. Lula disse que o governo federal não tem como interferir na investigação.

Mas não perdeu a oportunidade de fazer uma provocação ao governador Geraldo Alckmin: "Se houver um acordo com Alckmin, coloco a inteligência da Polícia Federal aqui". E afirmou categoricamente que a Polícia Federal poderia ir mais fundo na investigação que a polícia de São Paulo "porque está cientificamente mais preparada para atuar".