Título: Lula diz que é melhor que todos seus antecessores e vê mágoa na oposição
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/12/2005, Nacional, p. A4

Depois de cobrar de seus ministros, na segunda-feira, a defesa contundente do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encarregou de dar o exemplo. Comemorou a marca de 8,7 milhões de cartões entregues do Bolsa Família, programa símbolo de sua gestão, desafiando a comparação de qualquer número de seu governo com as realizações dos antecessores. Em discurso duro, um tom acima do habitual, acusou a oposição de ter "inveja, rancor e mágoa" de seu sucesso e torcer pelo fracasso do governo. "Tenho orgulho de comparar os meus números aos dos que governaram o Brasil antes de mim, qualquer número, em qualquer área, seja na educação, na saúde, no transporte, em qualquer área, de medir quem fez o quê quando passou pela Presidência da República deste país", discursou. "Qual é a diferença, que muita gente estranha? É que pela primeira vez o pobre entrou no Orçamento da União."

Lula escolheu a principal cidade administrada pelo PT no Estado, Osasco, para comemorar a marca do Bolsa Família e sugeriu também à platéia de 3 mil pessoas que faça a comparação. "É importante informar o que ocorreu neste Estado de São Paulo, que tinha tudo para não ter pobreza", afirmou, numa crítica indireta a um de seus possíveis adversários em 2006, o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Relatou repasses de R$ 2 bilhões para ações sociais em São Paulo, duvidando que algum antecessor tenha disponibilizado mais do que isso em período semelhante. "Vejam qual é a política social nos Estados, elas não existem." Na véspera, Lula havia acusado governadores de desviar verba para recuperação de estradas.

Mesmo sem se declarar, mais uma vez Lula agiu e falou como candidato. Iniciou seus recados à oposição dando conselhos ao prefeito da cidade, Emídio de Souza, referindo-se às eleições do ano que vem. "Quando nós estamos no governo, eles começam a jogar nas nossas costas aquilo que não conseguiram fazer em 30 anos, para que a gente faça em três meses, em 12 meses ou em três anos", disse, recomendando paciência para não responder ao "jogo rasteiro dos adversários" ou angustiar-se "com a pressa do povo". Em ano eleitoral, disse, "a guerra santa toma conta de cada cidade e às vezes a administração fica um pouco atrapalhada".

DÍVIDA

O presidente comemorou o pagamento da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) sem dar "um grito", assim como o anúncio de quitação dos débitos com o Clube de Paris. Mais: acusou o governo Fernando Henrique de "quebrar" o País. "Na semana passada dissemos: não queremos mais acordo e vamos devolver o dinheiro que o governo passado tomou emprestado porque tinha quebrado o Brasil. Vamos devolver ao FMI porque daqui para a frente o dinheiro que nós vamos gastar será o resultado do trabalho do povo, será o resultado das exportações, será o resultado da geração de empregos."

O Bolsa Família - com repasses de até R$ 100 ao mês - é um auxílio "emergencial", admitiu Lula, enquanto "nem todos estão trabalhando". Depois de enumerar realizações em quase todas as áreas do governo, disse que elas "incomodam". "Não existe nada que cause mais inveja do que um ex-governante ver que o seu sucessor está fazendo mais do que ele, não existe nada que possa causar mais rancor, mais mágoa, do que o sucesso de um adversário político. Eu sei que nós ainda temos muito para fazer. Vai precisar de muitos anos, muitos governos comprometidos com os trabalhadores para a gente fazer o que tem que ser feito."

A seu lado, a ex-prefeita Marta Suplicy, pré-candidata do PT ao governo paulista, e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, que enfrenta processo de cassação por envolvimento no mensalão. O deputado pregou a reeleição de Lula.