Título: Dilma critica CPI por relatório 'sem provas'
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/12/2005, Nacional, p. A9

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, criticou ontem a CPI dos Correios por divulgar "acusações sem prova" e o Congresso por não ter aprovado o orçamento. A atitude é incomum na ministra, que mantém distância de assuntos parlamentares. "Tudo isso cria uma situação ruim para o País", disse ela em entrevista no Palácio do Planalto. Dilma afirmou que "rejeita de forma enfática" o relatório parcial da CPI no qual é apontada a existência do mensalão. "O julgamento político também precisa ter base em provas. Não pode ser só político."

"Até na ditadura se respeitaram práticas de inquérito, práticas de julgamento. Não há justificativa para que a gente não mantenha esse respeito. O julgamento pode ser político, com base nas leis do País. O governo vai sistematicamente esclarecer as denúncias infundadas que sobre ele recaírem e colocar todo seu instrumental à disposição da sociedade para facilitar a investigação", afirmou. "Se houver algo malfeito dentro do governo tem de ser apurado. Vamos ter de punir os responsáveis, caracterizar o que foi feito e condenar a pessoa. Mas, antes disso, não posso tirar uma ilação de que houve uso indiscriminado. Tem de provar caso a caso."

Diante da insistência dos repórteres sobre as evidências de que membros do PT repassaram dinheiro ilegal para aliados, ela preferiu resumir o que aconteceu a um artifício para quitar dívidas de campanha. "O que há é a confissão de empréstimos feitos para pagar dívidas de campanha. Isso está profusamente confessado. Daí a querer acusar o governo de práticas de corrupção vai uma distância imensa. Nós repudiamos essas acusações sem provas."

Depois de afirmar que respeita o relator e o presidente da CPI, respectivamente deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) e senador Delcídio Amaral (PT-MS), reiterou que as acusações têm de ser provadas e o relatório da CPI dos Correios não conseguiu comprovar a acusação de uso de dinheiro público para pagamento de mensalão.

Ao criticar o Congresso por não ter votado o orçamento, Dilma evitou falar sobre os valores do excesso de arrecadação a serem anunciados na semana que vem. Ressalvou acreditar que não chegaria a R$ 2 bilhões. Depois de elogiar o desempenho dos ministros na execução orçamentária, disse que preferia não fazer maiores comentários sobre o atraso da votação do orçamento. "Prefiro não qualificar o atraso como boa ou má vontade, mas lamento que a votação tenha ficado para janeiro. Há uma limitação pelo processo eleitoral, mas o governo tem de prover os serviços fundamentais e é importante que o orçamento seja aprovado."