Título: Greve deixa 7 milhões a pé em NY
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2005, Internacional, p. A13

Com a paralisação do metrô e ônibus, funcionários desafiam lei estadual que proíbe greves no funcionalismo

Mais de 7 milhões de nova-iorquinos ficaram a pé ontem, quando os cerca de 34 mil funcionários da rede de metrô e ônibus da cidade desafiaram uma lei estadual que proíbe greve de empregados públicos e iniciaram uma paralisação por tempo indeterminado de madrugada. O principal objetivo dos grevistas é impedir a criação de sistemas diferenciados de benefícios de aposentadoria para funcionários atuais e futuros. Sob um frio intenso, centenas de milhares de pessoas começaram a cruzar as pontes de acesso à Ilha de Manhattan ao amanhecer, em longas caminhadas até seus locais de trabalho. O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, foi um dos que andaram até o serviço.

Muitas pessoas valeram-se dos 12 mil táxis da cidade, que improvisaram um sistema de lotação, cobrando até US$ 20 por corridas que normalmente custam menos da metade. Mas a demora para entrar de carro em Manhattan era, pela manhã, de mais de 40 minutos.

Um plano de emergência preparado pela prefeitura durante as várias semanas de negociações foi efetivado para lidar com o transtorno causado pela greve em plena temporada de Natal, que é uma das mais movimentadas do ano.

As escolas abriram com duas horas de atraso, várias empresas dispensaram os empregados ou pediram que trabalhassem em casa. O acesso de automóveis com menos de quatro passageiros foi proibido ao sul da Rua 96, em Nova York.

Furioso, Bloomberg denunciou a greve como "ilegal, moralmente repreensível e uma tentativa covarde" da representação local do Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes (TWU) para aumentar seu poder de barganha na negociação.

"Não podemos dar ao TWU a satisfação de causar o tumulto que está deseperamante tentando criar", afirmou o prefeito. Segundo estimativas da prefeitura, a greve custa US$ 400 milhões por dia à cidade em encargos extras com segurança e serviços e quebra na arrecadação de impostos.

O presidente do sindicato, Roger Toussaint, defendeu a paralisação dizendo que os trabalhadores do sistema de transportes de massa de Nova York estão cansados de serem desrespeitados e ter seu trabalho pouco reconhecido.

Toussaint obteve o apoio de 28 dos 43 membros da diretoria do sindicato local. Não conseguiu, porém, o respaldo da direção nacional do TWU, que considerou razoável o pacote de aumentos salariais e benefícios oferecido pela Autoridade Metropolitana (MTA) de Trânsito e conclamou o sindicato local a manter-se na mesa de negociação.

As greves de funcionários públicos são proibidas em todos os níveis do governo americano. Este é o primeiro teste real de uma lei do Estado de Nova York dos anos 60 que modificou a penalidade para paralisações de empregados do governo nos EUA, introduzindo multas no lugar da demissão sumária que vigorou até então. Em 1967, a Assembléia Legislativa estadual aprovou uma lei especial que suspendeu a aplicação de multa e mandou pagar os dias de uma greve ilegal dos funcionários dos hospitais.

Na última greve dos trabalhadores dos transportes públicos de Nova York, em 1980, o aumento salarial de até 50% obtido depois de 11 dias de paralisação compensou as perdas que os trabalhadores sofreram.

Desta vez é diferente. A divergência que levou o TWU à greve às vésperas do Natal não é sobre a oferta de aumento salarial gradual de 3% a 4% entre o primeiro e o terceiro ano do contrato, mas sobre os planos de pensão. Na noite de segunda-feira, a MTA fez uma concessão ao desistir da proposta de elevação da idade mínima de aposentadoria de 55 anos, válida para os funcionários atuais, para 62 - que seria aplicada aos funcionários futuros. Mas insistiu em que os futuros empregados paguem 6% de seus salários para um fundo de pensão, em lugar dos 2% pagos pelos atuais funcionários. Os sindicalistas rejeitaram a proposta e optaram pela greve.