Título: IML conclui que legista teve morte natural
Autor: Ana Paula Scinocca, Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2005, Nacional, p. A11

Laudo oficial descarta hipótese de o médico, que identificou sinais de tortura no corpo de Celso Daniel, ter se suicidado ou sido assassinado

O Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo concluiu que o legista Celso Delmonte Printes teve morte natural. O laudo oficial deve ser divulgado hoje. O legista identificou sinais de tortura no corpo do prefeito Celso Daniel, executado em janeiro de 2002 - após ter sido seqüestrado - , e reclamou ter sido censurado pelo comando da Polícia Civil de São Paulo. O legista foi a sétima testemunha ou réu envolvido no caso a morrer desde então. O delegado José Antônio do Nascimento deve encerrar em janeiro o inquérito sobre a morte de Delmonte, descartando a hipótese de assassinato, conforme apurou o Estado. O legista foi encontrado sem vida, caído no chão de seu escritório particular, na Vila Mariana, zona Sul de São Paulo, no dia 12 de outubro. A polícia suspeitava, desde então, de suicídio por causa de uma carta escrita de próprio punho pelo legista, endereçada à sua mulher.

O testemunho de Delmonte, que alegava que Celso Daniel havia sido torturado no cativeiro antes de ser assassinado, é considerado fundamental para provar que a execução do prefeito de Santo André não foi crime comum, mas sim de mando, como sustentam os promotores que integram a força-tarefa do Ministério Público para acompanhar o caso.

Nascimento disse no final da tarde que espera ter ainda hoje em mãos o detalhado laudo elaborado por uma equipe de peritos do IML. "O material está pronto, mas em trânsito. Até amanhã (hoje) deverá estar comigo", comentou ele. O delegado, porém, não quis adiantar trechos do relatório, já de seu conhecimento. Nascimento esteve reunido recentemente com os peritos responsáveis pela perícia. "O laudo é um instrumento importante da investigação. Mas só um instrumento. A tese de que Delmonte foi assassinado está completamente descartada", confirmou uma fonte ao Estado.

A versão apresentada agora pelo IML contraria a divulgada após a primeira bateria de exames no cadáver do legista.

Na ocasião, foi descartada, em caráter preliminar, a hipótese de morte natural, e foi levantada a possibilidade de Delmonte ter se suicidado. A hipótese de o médico legista ter sido assassinado foi considerada "remota" desde o início da apuração do caso.

Autor do livro "Perícia na Tortura", Delmonte prestou depoimento em agosto a promotores do Ministério Público que atuam no caso do assassinato de Celso Daniel. À época, afirmou que os assassinos do então prefeito demonstraram "raiva e desprezo" ao executar o petista.

As investigações sobre o assassinato e seqüestro de Daniel ainda não foram finalizadas pela Polícia Civil, após a reabertura do inquérito por determinação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). O inquérito, presidido por Elisabeth Sato, também deverá ser concluído em janeiro, segundo previsão da própria delegada.

Além da polícia civil e do MP, a CPI dos Bingos também atua na apuração do crime. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) preside a subcomissão