Título: CPI acha mais R$ 9,7 mi da Visanet no valerioduto
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2005, Nacional, p. A8

Engenharia financeira é quase idêntica à chamada operação BB-Visanet, prova de R$ 10 milhões do banco estatal entraram no esquema

Os parlamentares da CPI dos Correios vão anunciar hoje a descoberta de uma nova operação pela qual a Visanet abasteceu o valerioduto. Pela manobra, segundo a comissão, o esquema financeiro montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza foi beneficiado por cerca de R$ 9 milhões saídos dos cofres públicos. A engenharia financeira rastreada pelos técnicos da CPI é quase idêntica à operação BB-Visanet, primeira prova de que pelo menos R$ 10 milhões dos R$ 55 milhões que financiaram o mensalão vieram dos cofres públicos. Envolve os mesmos personagens e mecanismos de lavagem, mas foi feita antes e o valor era um pouco menor. A operação se realizou em uma semana. No dia 19 de maio de 2003, a Companhia Brasileira de Pagamentos (Visanet) depositou R$ 23,3 milhões na conta da DNA Propaganda, agência de Valério, no Banco do Brasil a título de antecipação de lucros. O Banco do Brasil é um dos principais acionistas da Visanet e firmara contrato de publicidade com a DNA.

Um dia depois de receber a transferência, a DNA investiu o valor quase integral do pagamento num fundo do próprio banco, chamado BB Fix. Apenas R$ 90 mil ficaram de fora. Mesmo com R$ 23,3 milhões de saldo na conta, dois dias depois a DNA tomou empréstimo de R$ 9,7 milhões com o Banco do Brasil, cujo nome é BB Giro Rápido - espécie de crédito disponível automaticamente, sem que seja preciso aprovação do banco para retirá-lo.

Logo depois dessa operação, a DNA transferiu justos R$ 9,7 milhões para a conta da agência SMPB, outra das empresas de Valério, no Banco Rural. Ou seja: num mecanismo clássico de lavagem de dinheiro, Valério justificou recursos transferidos para a SMPB com empréstimo forjado com essa finalidade. No mesmo dia, a DNA transferiu outros R$ 9,7 milhões para a conta da SMPB. Esse dinheiro ficou descoberto. Com os depósitos, a conta da SMPB ficou com R$ 18,4 milhões de saldo.

Em 26 de maio, uma semana depois do começo da operação e com quase R$ 19 milhões na conta, a SMPB fez empréstimo de R$ 18,9 milhões no Banco Rural. É justamente um dos empréstimos apresentados por Valério e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares como a origem dos recursos do mensalão.

No mesmo dia, a SMPB transferiu R$ 9,7 milhões para a conta da DNA, que pagou o empréstimo que fizera no mesmo valor. Os cerca de R$ 9 milhões restantes ficaram limpos na SMPB e foram para o mensalão. Agora, a CPI quer rastrear beneficiários do dinheiro. No caso da operação Visanet já descoberta, parte dos recursos foi parar na corretora Bônus Banval.