Título: Para Wagner, presidente será candidato
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2005, Nacional, p. A5

Ministro afirma que Lula fez 'um chamado à tropa', cobrando união do partido e defesa mais enfática do governo

A cada dia cresce a convicção de que a conversa de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria dúvidas sobre a disputa da reeleição é apenas isso - uma conversa. Lula falou do assunto durante a longa reunião ministerial de segunda-feira. Não fez uma declaração categórica de que vai entrar na luta pelo segundo mandato, mas durante o encontro assumiu a postura de que será candidato - mas só quer anunciar a decisão depois de colocar ordem na casa. "Ele fez um chamado à tropa", explicou o ministro Jaques Wagner, das Relações Institucionais, em entrevista, ontem. "Disse que a decisão de concorrer estará condicionada a dois fatores. Quer que o governo esteja unido e cobrou que todos assumam a defesa do governo." O próprio ministro admite, contudo, que está "pessoalmente convencido de que Lula vai disputar a reeleição." Para Jaques Wagner, as dificuldades atuais do governo, demonstradas nas dramáticas pesquisas de opinião, servem de estímulo a mais para Lula entrar na campanha. "Se a situação estivesse fácil ele estaria menos motivado. Mas não vai ficar de fora agora. Poderia parecer uma fuga." Nos diálogos com auxiliares Lula deixa claro que reconhece seu lugar único na campanha eleitoral - como principal responsável pelo governo e o político mais indicado para defendê-lo.

VELHO HÁBITO

Fazer suspense sobre a própria candidatura é um velho costume de Lula desde 1982, quando disputou o governo de São Paulo, ficando em quarto lugar. Em 2006, ao levantar o fantasma de uma desistência que teria o efeito de um golpe de misericórdia no partido e em seu governo, Lula tenta renovar a própria musculatura.

Obriga amigos e aliados a cerrar fileiras a seu lado numa hora difícil, de impopularidade, muita crítica e decepção imensa por causa da taxa de juros e do mensalão. A eleição interna do PT, onde a facção que o apóia recebeu menos da metade dos votos no primeiro turno, mostrou que se ouve queixas até nos locais onde só deveria haver apoio.

Lula nunca foi um advogado feliz da reeleição - que o PT combateu com dureza nos tempos de Fernando Henrique Cardoso - e costumava defender a idéia de que só faria sentido candidatar-se uma segunda vez se fosse para fazer um governo melhor do que o primeiro. Esta conversa acabou, naturalmente.

Outro aspecto é que o desastre do mensalão dizimou possíveis presidenciáveis da legenda. Lula jamais produziu um herdeiro natural em 25 anos de PT. Depois da vitória em 2002, os novos e velhos caciques da sigla passaram a promover articulações e conspirações variadas para ter direito ao espólio quando surgisse a ocasião.

Marta Suplicy tinha um plano para 2010: queria ser reeleita prefeita de São Paulo em 2004, contando que ao final do segundo mandato, em 2008, teria tamanho para disputar o Planalto. Mas o eleitorado paulistano não fez sua parte e ela voltou para a fila, sendo obrigada a disputar a prévia estadual com Aloizio Mercadante. Outro candidato a candidato era o ministro da Casa Civil, José Dirceu, agora inelegível até 2016. Antonio Palocci chegou a ser visto como nome possível - até que a pororoca das denúncias de Ribeirão Preto encontrou-se com o crescimento negativo do último trimestre, deixando até o presidente irritado com seu ministro da Fazenda.

Lula tem um histórico de manobras sutis quando se trata de lançar sua candidatura a cargos executivos. Ele sempre foi o candidato natural do partido à Presidência da República. Depois de sofrer a segunda derrota, em 1994, cresceu dentro do partido a conversa de que era um político predestinado a fazer bonito nas pesquisas, garantir uma vaga no segundo turno - mas a morrer na praia em todas as disputas. Mesmo assessores próximos e amigos de Lula chegaram a se convencer disso. Numa manobra astuciosa, ele chegou a anunciar em reuniões internas que não queria mais disputar a Presidência - mas é claro que voltou atrás. Em 2002, quando o senador Eduardo Suplicy lançou a idéia de prévia, ameaçou não concorrer.

Calcula-se que até fevereiro Lula deve anunciar formalmente a candidatura. O calendário eleitoral não tem pressa. A regra da verticalização ainda não está definida .

Só em março deve-se saber quem será o candidato do PSDB, José Serra ou Geraldo Alckmin. Animado pela posse de um bom conjunto de candidatos aos governos estaduais, o PMDB pode ou não ter candidato próprio, hipótese que já freqüenta as cogitações do Planalto - convencido de que seria uma boa forma de dividir o palanque da oposição.

Vice em 2002, José Alencar trocou de partido em 2005, segue criticando os juros com ferocidade e não deixa claro o que pretende fazer.