Título: Igreja e sindicato divergem sobre projeto
Autor: Bruno Paes Manso
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2006, Metrópole, p. C5

A votação de ontem na Câmara sobre a parceria da Prefeitura com organizações sociais (OS) mobilizou Igreja e sindicalistas, respectivamente a favor e contra a gestão compartilhada do serviço público de saúde. Representantes dos dois lados levaram cartazes à Câmara para acompanhar a votação. O padre Marcos Fernando, da Pastoral da Saúde, afirmou que as OS gastam melhor o dinheiro público e conseguem arrecadar verba da iniciativa privada para investir no serviço. ¿Para a OS, a parceria é boa porque se ganha mais notoriedade, respeito, e, conseqüentemente, mais recursos para o trabalho sem fins lucrativos que a entidade desempenha.¿ A pastoral é ligada à OS Santa Marcelina, que cuida de gestão de um hospital estadual.

Indagado se a escolha das entidades mediante licitação não tornaria a parceria mais legítima, o padre disse que o ¿processo licitatório, muitas vezes, não é justo¿.

Para Ana Rosa Garcia da Costa, do Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias do Município, aprovar o projeto significa ¿assinar um cheque em branco¿. ¿Não sabemos o modelo do contrato de gestão e não haverá licitação para escolher as entidades.¿ Segundo ela, não procede a alegação da Prefeitura de que é imobilizada pela burocracia e o modelo de gestão em parceria com as OS dará mais flexibilidade e agilidade ao trabalho. ¿Isso é uma questão de ter dinheiro e se programar.¿

Antonio Carlos Cruz, diretor do Sindicato dos Médicos do Estado, disse que as parcerias com OS na esfera estadual parecem bem-sucedidas porque as entidades cuidam de unidades que atendem apenas aos casos de pequena ou média gravidade. ¿A produtividade é maior onde as doenças são menos graves.¿

Além disso, segundo Deodato Rodrigues Alves, diretor do Sindicato dos Farmacêuticos do Estado, ¿as OS só administram hospitais estaduais novos¿. ¿Agora, oito anos depois da entrega desses hospitais, o barco já está fazendo água.¿

¿Como sempre, querem dar o filé mignon para a iniciativa privada e o que é ruim fica para o poder público cuidar¿, disse Cruz.

¿Este é um PAS (Plano de Atendimento à Saúde, criado na gestão Paulo Maluf) disfarçado. Na época, houve uma melhora eleitoreira, que terminou numa roubalheira enorme e na saúde sucateada¿, disse Alves.