Título: Economia real derrapa, reclama a indústria
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

A queda do risco país abaixo dos 300 pontos ontem não reflete em nada o desempenho da economia real brasileira em 2005. "Se tivéssemos feito o que todo o mundo fez teríamos crescido entre 4,5% e 5% no ano passado. A economia real derrapou", reclamou o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida. Na avaliação dele, o Brasil perdeu uma grande oportunidade de aproveitar o bom momento do mercado internacional, como os outros países emergentes fizeram. De acordo com as previsões, o Brasil deve fechar 2005 com um crescimento da atividade em torno de 2,4%. O executivo afirma que o mau desempenho da economia real pode ser atribuído a uma política equivocada de juros e câmbio.

Durante boa parte do ano de 2005, o Banco Central adotou a estratégia de elevar a taxa de juros do País para conter os índices de inflação e, com isso, atingiu o nível de atividade. As especulações de investidores estrangeiros, que queriam ganhar com a elevada taxa brasileira, aumentaram e contribuíram para derrubar o dólar. Com a moeda americana desvalorizada ante o real, os exportadores reclamaram de perda de competitividade no mercado internacional.

"Se não tivessem adotado esta política de câmbio e juros, estaríamos comemorando o risco país em 200 pontos, não em 299", criticou o executivo. Para ele, isso também contribuiria para que as agências internacionais de classificação de risco pudessem rever a nota atribuída ao Brasil. Almeida afirma que o País tem hoje números muito melhores que no passado.

No setor público, por exemplo, diz ele, nosso déficit está em torno de 3,5% ante 5% de anos anteriores. "Só falta uma coisa para o País ocupar o seu lugar no mundo: o crescimento da economia real", afirmou o diretor-executivo do Iedi.