Título: Janeiro em marcha lenta
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2006, Economia & Negócios, p. B3

O ano começa com uma reposição lenta de estoques do comércio para a indústria, em resposta ao desempenho abaixo do previsto das vendas de Natal, especialmente de itens como roupas, calçados, brinquedos, eletrodomésticos e CDs. Isso indica que o ritmo de produção dos fabricantes, principalmente de semiduráveis, deverá ser fraco este mês. Em compensação, o comércio deve intensificar as promoções para se livrar de estoques indesejados, como vem ocorrendo desde o dia 26 de dezembro. Tanto é que, na virada do ano, grandes redes varejistas até anteciparam as liquidações.

Sondagem preliminar da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) revela que os lojistas faturaram neste Natal 1% mais que na mesma data de 2004. Foram consultados 120 empresários, a maioria do setor de semiduráveis, que responde por 25% do faturamento do varejo.

O assessor econômico da entidade, Altamiro Carvalho, destaca que quase a metade dos lojistas consultados (45%) informou que antes do Natal acumulava estoques maiores que os do mesmo período de 2004 e apenas 7% declararam que os volumes eram menores.

"Como as vendas do Natal foram baixas, o ano virou com estoques elevados no comércio. Por isso, o ritmo de atividade em janeiro deverá ser lento na indústria e as promoções se intensificarão no comércio", prevê. Carvalho pondera que a sondagem não inclui concessionárias de veículos, cujas vendas foram recordes em dezembro.

As Lojas Marabraz, por exemplo, iniciaram esta semana uma liquidação para limpar os estoques de móveis, com descontos de até 50%.

O Magazine Luiza, terceiro maior varejista de eletrodomésticos e móveis do País, marcou para o sábado a sua tradicional megaliquidação de um dia. Entre sobras do Natal e mercadorias negociadas com os fabricantes exclusivamente para a promoção, serão liquidados cerca de 100 mil itens com descontos de até 70%. A expectativa é repetir o faturamento da liquidação de 2005, que foi de R$ 40 milhões.

As Lojas Cem, que fecharam dezembro com queda de 2% no faturamento em relação ao mesmo período do ano passado, considerando as mesmas lojas, não planejam liquidação para este mês. "Como a venda caiu, vamos comprar menos este mês", diz o supervisor geral, Valdemir Colleone.

Para um fabricante do setor de eletrodomésticos que prefere não ser identificado, este ano não começou tão aquecido como o de 2005. "Não há grande pressão por reposição de estoques."

O setor de papelão ondulado, que é um termômetro do ritmo de atividade, confirma que as encomendas neste início do ano estão fracas. "O volume de pedidos não é brilhante; será um janeiro normal", afirma o presidente da indústria de papelão São Roberto, Roberto Nicolau Jeha. Ele pondera, no entanto,que ainda é prematuro fazer uma avaliação por um período mais longo porque o ano está só começando

De toda forma, o desempenho de 2005 para o setor foi decepcionante, segundo ele, com uma alta de apenas 2% nos volumes, abaixo da expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), entre 2,3% e 2,4%.