Título: Professor ainda sofre as conseqüências da doença
Autor: Roberta Pennafort, Pilar Magnavita
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2005, Vida&, p. A26

José Luiz Tuffani, que passou 39 dias internado, toma remédios e não movimenta algumas partes do corpo

No dia 15 de outubro, um sábado, o professor e editor José Luiz Tuffani de Carvalho e sua mulher, a juíza Maria de Lourdes Farias Tuffani de Carvalho, moradores do Rio, viajaram para Itaipava. O plano era passar um fim de semana numa pousada e descansar em contato com a natureza. O casal não sabia que começaria ali um pesadelo que quase custou a vida do professor. Ele contraiu febre maculosa, ficou 39 dias internado e ainda sofre as conseqüências da doença. A família se manteve em silêncio no período que ele passou no Hospital São Lucas, em Copacabana. Sobre o paciente, pediu que fosse divulgado apenas que era um "professor aposentado de 62 anos", a fim de manter sua privacidade. Passado o susto, Carvalho e a mulher receberam o Estado em seu apartamento, no Flamengo, na quinta-feira. Ele contou o drama que viveu, a ser relatado num livro que já começou a escrever.

Durante a estada na Pousada Capim Limão, o professor (aposentado, mas ainda trabalhando na livraria e editora de sua propriedade, chamada Espaço Jurídico) chegou a conhecer o jornalista Roberto Moura, que seria uma das vítimas fatais da maculosa.

Os dois estavam acompanhados das mulheres e conversaram amenidades à beira da piscina, aproveitando o dia de céu claro. Os dois casais fizeram caminhadas pela trilha que fica na parte de trás do estabelecimento, mas só Carvalho e Moura foram contaminados pelos carrapatos. Maria de Lourdes chegou a sentir uma picada, mas não teve sintomas.

O professor e a mulher voltaram para o Rio no dia seguinte e ele começou a se sentir mal uma semana depois. Teve dores no corpo, em especial nas pernas, que evoluíram aos poucos. Foi ao médico e internou-se no hospital. "Era como se fosse o início de um resfriado", conta. "Fiz exames que não apontavam nada." Os médicos não reconheceram a doença. Pensaram tratar-se de dengue hemorrágica, leptospirose, pneumonia ou meningite. A febre não cedia e a contagem de plaquetas caía vertiginosamente. Carvalho foi então transferido para o CTI. Permaneceu lá 23 dias.

"Fui ficando apavorada. Ele chegou ao CTI bem, falando, mas já no dia seguinte piorou muito. Ficou com a pele verde e bastante inchado", diz Maria de Lourdes. "No pior dia, falei para o médico que iria a uma igreja rezar. Ele disse: 'é melhor ir mesmo'." A maior aflição dos parentes e do paciente era não saber que doença era.

A juíza diz que a febre maculosa foi finalmente diagnosticada quando o caso de Roberto Moura veio à tona. A essa altura, os rins, o pulmão e o fígado de Carvalho haviam sido afetados. Ele foi submetido a sessões ininterruptas de hemodiálise por 15 dias. Na tentativa desesperada de reverter o quadro, a família chegou a importar um medicamento americano.

Enquanto esteve internado, o professor contou com a dedicação da equipe do Hospital São Lucas, à qual agradece, e teve o carinho e a presença da mulher, das três filhas e dos amigos. "Passei 23 dias nas trevas das alucinações. Voltei à vida ouvindo minhas filhas falando no meu ouvido: 'volta, pai, fala, pai'", lembra ele, com a voz embargada.

Quando acordou, ele não movia nem um dedo sequer. Treze dias depois de receber alta, ele se locomove, graças à fisioterapia, mas com dificuldade. Toma remédios para os rins e tem auxílio de técnicos de enfermagem. Só mexe o braço direito. Está escrevendo o livro, que será intitulado Vontade de Viver, à mão, já que não consegue digitar no computador com a mão esquerda.

"Fiquei um traste. Ao ouvir o relato da minha mulher, eu tenho certeza de que iria morrer. É impressionante como um bicho tão pequeno causa uma infecção tão violenta. Mas agora sei que vou ficar perfeito e voltar a trabalhar. Já venci muitas etapas", afirma ele.