Título: Com Lula no poder, mortes no campo saltam para 140
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2005, Nacional, p. A14

Nos 3 últimos anos de FHC, houve 93, diz Pastoral

De acordo com levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), 140 pessoas morreram em conflitos agrários no período que vai da posse do presidente Lula, em janeiro de 2003, a agosto deste ano. Foi um salto significativo na escalada da violência, considerando-se que nos três anos anteriores, no governo de Fernando Henrique, o total foi de 93 mortes. A Ouvidoria Agrária Nacional, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e se mostra mais cautelosa na análise dos conflitos, encontrou números bem menores. Mesmo assim, eles também apontam a escalada. Foram 40 mortes nos três anos finais de Fernando Henrique, contra 71 no governo Lula, segundo a Ouvidoria, cujo levantamento vai até novembro.

O aumento da violência está vinculado à elevação das expectativas geradas por Lula. Confiando que ele iria acelerar a distribuição de terras, mais pessoas engrossaram os acampamentos e as invasões. Segundo a Ouvidoria, foram registradas 497 ocupações entre 2000 e 2002. Nos três anos seguintes, com Lula na Presidência da República, o número subiu para 762 - variação de 53%.

O relatório da Ouvidoria indica também que, apesar do aumento da violência, o pior já teria passado. Ano a ano, o número de mortes no atual governo variou de 42, em 2003, para 16, em 2004. Neste ano, até novembro, eram 13 mortes.

As ocupações de terras também caíram. Passaram de 327 em 2004 para 213 neste ano. Para o presidente da CPT, o bispo d. Tomás Balduíno, este refluxo estaria ligado ao desencanto com o governo.

Ao falar das pesquisas sobre violência feitas pela instituição que preside, o bispo assinala que, ao contrário do que ocorreu em governos anteriores, ela está menos relacionada ao embate com forças públicas do que no passado.

"Não há tanta repressão como antes, quando os sem-terra eram tratados como bandidos", diz. "O governo dialoga com as organizações sociais. As manifestações do MST, como as marchas, eram monitoradas pela polícia, enquanto hoje tem até apoio financeiro do governo."

Esse é um dos principais dilemas enfrentados MST: seus líderes podem não gostar do governo, porque distribuiu menos lotes do que prometeu, mas nunca tiveram tanta facilidade para circular nos gabinetes de Brasília e obter verbas para seus projetos como agora.