Título: Mandelson dá sinais de que UE pode negociar
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2005, Economia & Negócios, p. B10,11

Europeus são acusados de ser o principal obstáculo para que as negociações avancem

Depois de endurecer sua posição, mostrar inflexibilidade e conseguir concessões e garantias de alguns países, a União Européia (UE) dá sinais de que pode estar disposta a negociar. Ontem, antes de entrar para a reunião que duraria até as primeiras horas da manhã de hoje, o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, afirmou que o rascunho do texto ainda seria ¿desequilibrado e com reduzida ambição¿, mas estava disposto a negociar. Os europeus estavam sendo acusados de ser o principal obstáculo nas negociações por não estarem dispostos a abrir seu mercado para os produtos agrícolas nem fixar uma data para o fim dos subsídios à exportação.

Durante os últimos dias, os 25 países da UE se reuniram diariamente para avaliar a situação. Até quinta-feira, uma coalizão de 20 países apoiavam a idéia de inflexibilidade sobre todos os temas agrícolas. Mas ontem vários deles mudaram o discurso e indicaram que poderiam rever suas posições caso outros países, principalmente Estados Unidos, Canadá e Austrália, dessem garantias de reformas de seus mecanismos de apoio à agricultura. Segundo a proposta de acordo apresentada ontem, duas opções seriam possíveis. Uma estabeleceria a data de 2010 como prazo para a eliminação dos subsídios à exportação.

A outra opção seria um prazo de cinco anos após a conclusão do entendimento. Caso isso ocorra a partir de 2007, o prazo então seria 2013, exatamente quando a UE poderia rever sua Política Agrícola Comum.

Mandelson avisou ontem que a primeira opção, de 2010, preferida pelo Brasil, é ¿absolutamente inaceitável¿. Mas disse que estaria disposto a falar sobre o restante da proposta. ¿Estou preparado para me engajar nesse assunto, mas não sozinho. Vamos negociar. Só espero que outros também se engajem e sejam razoáveis¿, disse o comissário.

Caso a segunda opção fosse aceita, a política de subsídios da Europa, que foi reformada em 2003, não precisaria ser revista até 2013. Para alguns países do bloco europeu, uma eventual aprovação da segunda data seria uma vitória. Para o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, um eventual acordo de eliminação de subsídios até 2013 já terá um preço alto, pois exigiu do Brasil concessões e a flexibilização de suas posições em temas relacionados a subsídios.

Mesmo assim, Mandelson quer mais precisão sobre como os Estados Unidos vão retirar seus subsídios até 2013. O europeu ainda quer mais avanços nos temas industriais e de serviços. O objetivo é garantir que o texto aprovado em Hong Kong não seja um retrocesso nessas áreas de interesse do bloco e mantenha a abertura dos mercados. ¿Vamos continuar negociando sobre esses temas também. Há problemas no texto, mas com boa vontade serão administráveis.¿

O europeu ainda quer um cronograma de trabalho para os meses após Hong Kong, para que o trabalho que não foi completado na reunião possa ser concluído.