Título: Em confronto com a polícia, 900 detidos
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2005, Economia & Negócios, p. B10,11

Houve tentativas de invasão e até plano de retirada das autoridades

Enquanto os ministros tentavam salvar a rodada de negociações da 6ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), ativistas tentaram invadir o edifício onde ocorrem as discussões entre os governos. Os enfrentamentos com a polícia deixaram vários feridos nas proximidades do centro de convenções e o edifício onde estavam os ministros foi fechado por quase uma hora. Nenhum ministro podia entrar ou sair do prédio e reuniões que estavam marcadas em um momento crítico das negociações foram suspensas. 900 pessoas foram detidas e 41 foram feridas. ¿Isso aqui está uma baderna. Não consigo sair do local de reuniões¿, afirmou o ministro da Agricultura do Brasil, Roberto Rodrigues, que teve de permanecer no centro de convenções e não conseguiu voltar a seu hotel. Na terça-feira passada, a abertura das reuniões da OMC também foi marcada por protestos e três pessoas chegaram a ser levadas aos hospitais de Hong Kong.

O objetivo dos manifestantes era interromper as negociações e evitar que o processo seja concluído em Hong Kong. Para garantir a continuação das reuniões, os policiais da cidade asiática não economizaram forças e reagiram aos ataques dos manifestantes com gás lacrimogêneo e canhões de água. Seguranças fortemente armados ainda montaram um verdadeiro paredão em todas as principais entrada dos edifício e isolaram a área.

Por alguns momentos, o pânico tomou conta dos corredores do centro de convenções, com policiais correndo de um lado para outro. A OMC, porém, garante que estava preparada para o pior. Segundo a polícia, barcos estavam de prontidão para, se necessário, retirar os 3 mil ministros, diplomatas e negociadores, além dos jornalistas que estavam nas salas de reuniões. Situado à beira do Porto de Hong Kong, o local da conferência está cercado também por barcos da polícia que patrulham o acesso ao edifício.

BRIGA DE GATO E RATO

Depois de serem dispersados, os mais de mil manifestantes voltaram a se reunir em um local mais distante do centro do conferências e a manifestação continuou. As autoridades de Hong Kong ainda emitiram comunicados nas televisões e rádios pedindo que todos os cidadãos se mantivessem longe do local da conferência. Ambrose Lee, secretário de Segurança da cidade, anunciou que a polícia tomaria ¿todas as medidas necessárias¿ para garantir a segurança dos ministros. ¿O controle de todas as regiões será garantido e a paz restaurada. Eu posso garantir que a lei e a ordem serão mantidas e a polícia usará todos os métodos à sua disposição¿, disse Lee.

Durante a tarde de ontem, a briga de gato e rato entre a polícia e os manifestantes pelas ruas de Hong Kong ainda paralisou parte da cidade. Os protestos foram os piores desde o inicio do evento, há quase uma semana. Os ativistas mais violentos foram os fazendeiros coreanos, que não querem a abertura de seu mercado para o arroz estrangeiro e usaram bombas para atacar a polícia. Hoje, último dia das negociações, os ativistas prometem reunir até 10 mil pessoas para tentar bloquear o acordo na OMC. Mas a polícia ainda não sabe se autorizará o evento diante dos acontecimentos de ontem.