Título: PSDB e PFL pensam em derrotar Lula já no 1º turno
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2005, Economia & Negócios, p. A12

Oposição considera que pesquisas dão força a essa possibilidade

PSDB e PFL trabalham hoje com dois cenários para as eleições de 2006, um deles considerando a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outro contando que ele não se candidatará. No cenário em que Lula é candidato, a estratégia é juntar forças de todos os aliados possíveis e tentar derrotá-lo no primeiro turno; se Lula não for candidato, depauperado pela continuada perda de substância eleitoral, cada um se sentirá livre para lançar seu candidato. Os partidos de oposição consideram que a velocidade das perdas eleitorais de Lula é tão grande que, se não houver um fato superior que as reverta drasticamente, o presidente chegará às vésperas da eleição com condições precárias de disputa, o que poderia induzi-lo a desistir. Para tucanos e pefelistas interessa um Lula fraco, o que lhes daria um cenário previsível e quantificável, propício à vitória da oposição.

Mas se Lula desistir - seja pelo constrangimento de enfrentar uma campanha condenada à derrota, seja pela conveniência de arranjar uma desculpa qualquer e se guardar para uma eleição futura - nasce uma incógnita: que candidato o PT poderia lançar e que desempenho esse candidato pode alcançar?

Para enfrentar Lula, está tudo pronto. A idéia é afunilar os acordos, reunir o maior número de partidos possível e partir para uma campanha plebiscitária, em que o candidato tucano será o anti-Lula, de forma a favorecer uma decisão no primeiro turno. Um alto dirigente do PFL sustenta que essa probabilidade é bastante razoável. A pesquisa CNI/Ibope desta semana deu 37% ao prefeito José Serra no primeiro turno, sem se declarar candidato. Ganhar 13 pontos porcentuais no transcorrer da campanha em que Lula está fraco não é difícil, alega.

SERRA OU ALCKMIN?

Enquanto não chegar a hora de decidir, o PFL vai continuar falando em candidatura própria, o que brinda o segundo cenário (Lula não candidato). Mas a decisão virá em março, mesma época em que o PSDB aponta qual dos dois pré-candidatos - Serra ou o governador Geraldo Alckmin - será ungido para disputar a Presidência. Em 2002, quando a tradicional aliança PSDB-PFL não aconteceu, a relação de Serra com PFL ficou próxima do rompimento depois do episódio em que uma empresa de Roseana Sarney foi invadida pela Polícia Federal, que lá descobriu malas de dinheiro. A partir de 2004, Serra começou um longo trabalho de recomposição de sua relação com o PFL, convencido de que ela seria necessária a uma eventual candidatura em 2006.

Primeiro, como presidente do PSDB, Serra reforçou os mecanismos da aliança parlamentar de PSDB com PFL. Depois se aproximou do senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL. Em 2004, após decidir ser candidato a prefeito, foi Bornhausen quem lhe indicou o vice Gilberto Kassab. Serra aceitou sem pestanejar e ainda defendeu bravamente Kassab quando ele foi atacado pelo PT. Bornhausen anotou estes movimentos na linha de crédito.

Na convenção nacional do PSDB, em meados de novembro, Serra esteve entre os tucanos que receberam festivamente a delegação de cardeais do PFL que lá compareceu e deu atenção especial ao senador Antônio Carlos Magalhães, com quem suas relações estavam especialmente deterioradas. Na sexta-feira retrasada, o prefeito recebeu para um jantar reservado o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto. Pouco vazou da conversa, mas pefelistas garantem que a aliança está refeita.

Por fim, Serra tem uma jóia da coroa para ofertar aos pefelistas - 2 anos e 9 meses de governo na Prefeitura de São Paulo. A confiança que passou a despertar e o legado que deixa fazem dele o candidato preferido no PFL. Entre os pefelistas, há ainda um certo distanciamento do governador Alckmin. O próprio Bornhausen acha que ele não se preocupou em aproximar-se do PFL. E tem com o partido um contencioso, o episódio em que o PFL se aliou ao PT e tomou a Mesa da Assembléia de São Paulo, contra o candidato do governador.

As últimas pesquisas de opinião criaram uma doce complicação para o PSDB: se Serra é um candidato plenamente viável, Alckmin mostra que pode vir a ser competitivo. Com isso, refinam-se os critérios para definir quem será o homem. Naturalmente, o PFL não escolherá o candidato tucano, mas se, em março, alguém perguntar quem é o preferido dos pefelistas, vai ouvir que o nome é Serra.