Título: Quem for salvo por acordão vai ser punido no voto, diz Serraglio
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2006, Nacional, p. A7

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), fez ontem um desabafo ao condenar um suposto "acordão" que estaria sendo feito na Câmara pelo PT e partidos aliados para inocentar os deputados que receberam recursos do mensalão. Em discurso contundente aos integrantes da comissão, ele afirmou que os acusados não conseguirão se reeleger nas próximas eleições, mesmo que consigam escapar da punição agora. Disse ainda que a CPI dos Correios funciona como "um júri popular". "Espero que não seja verdadeira a engenharia que está sendo construída na Câmara, de que eu ajudo o seu partido, você ajuda o meu partido e nós vamos abafar o que está acontecendo", disse. "Quem não for depurado agora será depurado com o voto em outubro."

Em meados de dezembro, os deputados livraram da cassação Romeu Queiroz (PTB-MG), acusado de ser o beneficiário de R$ 452 mil das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do mensalão. Queiroz foi o primeiro acusado de receber recursos do esquema a se livrar. Faltam ser julgados outros 11 deputados acusados de sacar recursos do valerioduto.

As declarações de Serraglio foram uma resposta às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, ao trabalho da CPI dos Correios. O relator afirmou que não está preocupado com o seu relatório final porque a população acompanha diariamente as sessões da CPI e, por isso, tem instrumentos para "firmar seu próprio juízo de convencimento", à medida que tem acesso aos depoimentos e provas. "Não estou preocupado com o relatório final. Nós vivemos hoje um grande júri popular. Há um júri popular, aberto, franco e os juízes estão em casa assistindo", argumentou. "Daí a surpresa quando se diz que não tem prova", acrescentou, referindo-se à entrevista de Lula.

PARALELO

Para ele, o fato de o presidente ter reconhecido que houve erro do PT foi positivo. Serraglio afirmou ainda que o relatório parcial apresentado em dezembro fez um balanço dos aspectos mais expressivos das investigações da CPI. "Não houve nenhuma omissão intencional nem opinião pessoal", garantiu.

Serraglio criticou a elaboração de um relatório paralelo ao seu texto final, que estaria sendo articulada pelo deputado Carlos Abicalil (PT-MT). "Me causa espécie quando se fala em relatório paralelo de algo que ainda nem existe", observou.

O deputado tucano Eduardo Paes (RJ), relator-adjunto da CPI, afirmou que Lula "mente descaradamente" ao dizer que não tinha conhecimento do mensalão. "O presidente lidera um processo de minimização de crimes gravíssimos praticados por uma gangue que se instalou no poder", acusou ele.