Título: Mantega: queda do PIB foi de 0,9%
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2005, Economia & Negócios, p. B8

Presidente do BNDES diz que retração da economia no 3º trimestre será revista pelo IBGE, mas descarta hipótese de erro

O presidente do BNDES, Guido Mantega, afirmou ontem que a queda de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre do ano será revista para uma taxa, ainda negativa, de 0,9%. Ou seja, a retração do PIB ficará menor. "A economia já está se reaquecendo e com a redução da Selic (taxa básica da economia brasileira) e da TJLP (taxa de juros de longo prazo, utilizada nos financiamentos do BNDES) haverá retomada de investimento e melhor desempenho", afirmou. Mantega insistiu na sua avaliação de que não houve erro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no cálculo do PIB do terceiro trimestre. Ele ressaltou também que não considera incorreta a metodologia aplicada. "Não há caixa preta coisa nenhuma", afirmou Mantega, que acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião de cúpula do Mercosul, em Montevidéu.

Para Mantega, o PIB brasileiro poderia fechar o ano em 4% a 4,5%, se a política monetária tivesse se mantido mais flexível ao longo do ano, e fechará com um crescimento de 2,5% a 3% da atividade econômica. Porém, ele descartou a possibilidade de o governo promover uma virada na política econômica em 2006. Segundo o presidente do BNDES, a política econômica é bem-sucedida e podem ser feitos apenas ajustes na política monetária, que, em sua opinião, tem de ser flexível. "No controle da inflação a política monetária foi um sucesso absoluto. No caso da evolução do PIB, temos de esperar os dados do último trimestre para ver se houve excesso de rigidez."

Nesse sentido, ele retomou as pressões para que o Conselho Monetário Nacional (CMN) reduza a TJLP, que está em 9,75% desde abril de 2004. O nível da TJLP é definido a cada trimestre e está na pauta do CMN de quinta-feira.

Mantega argumenta que atualmente a TJLP real é de 4%, e acrescentado o spread de 2% a 5% o empresário tem uma taxa de 8% a 9%, o que vem comprometendo os investimentos. "A TJLP tem de ser reduzida. A lei que a determina prevê que a TJLP deve ser formulada a partir da projeção do risco país e das metas da inflação. Há espaço para essa redução."

Outro fator que inibe os investimentos e a exportação, na avaliação de Mantega, é a taxa de câmbio. Ele lembrou, no entanto, que a prevista redução gradual da taxa Selic ajudará a melhorar a relação entre o real e o dólar.

SUPERÁVIT FISCAL

O presidente do BNDES defendeu a preservação da meta de superávit primário do setor público de 4,25% do PIB este ano e também em 2006, como está previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Lembrou, entretanto, que essa é a meta mais elevada do governo brasileiro em sua história por três anos seguidos e reconheceu que, na prática, o superávit neste ano será mais elevado.

"Certamente o superávit primário deste ano será maior do que 4,25%, mas isso é adequado, foi planejado e é compatível com a responsabilidade fiscal", disse Mantega, que mostrou cautela diante das propostas de gasto imediato do excedente. "Se sobrar, não se pode torrar."