Título: Com aftosa no Paraná, Rússia amplia embargo
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2005, Economia & Negócios, p. B6
Prejuízo do Estado com a doença chega a R$ 120 milhões Carne de 8 Estados será barrada no país; antes era só a de MS
DISPUTA: A pecuária paranaense teve um prejuízo de R$ 120 milhões desde 10 de outubro, quando foi confirmada a presença do vírus da aftosa no vizinho Mato Grosso do Sul. A estimativa foi feita nesta sexta-feira pelo presidente do Sindicato da Indústria de Carne e Derivados do Estado do Paraná (Sindicarne), Péricles Salazar. As perdas decorrem do embargo de 27 países à importação de carne do Estado. O suspeita do foco no Paraná foi anunciada em 21 de outubro e confirmado pelo Ministério da Agricultura na última terça-feira. O governo do Paraná contestou e prometeu recorrer à Justiça para reverter o laudo. A divergência motivou a criação, na quinta-feira, de uma comissão parlamentar, chefiada pelo deputado federal Abelardo Lupion (PFL-PR), para apurar quem tem razão.
Em reação à confirmação do foco de febre aftosa do Paraná, a Rússia ampliou o embargo às importações de carne bovina, suína e de frango do Brasil. Foram suspensas as compras de carne de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Até então, o embargo russo estava restrito a Mato Grosso do Sul, onde haviam sido confirmados os focos da doença e Amazonas e Pará, onde foram encontrados focos no ano passado.
A Rússia é o maior comprador da carne brasileira. O embargo brando adotado até agora era um dos fatores que vinha impedindo uma queda mais drástica nas exportações do Brasil. No mês passado, o país comprou 8,7 mil toneladas de carne bovina in natura do Brasil. No acumulado de janeiro a novembro deste ano a receita cambial obtida com as vendas somou US$ 530,4 milhões, aumento de 132% na comparação com igual período de 2004.
O Ministério da Agricultura foi notificado ontem pelo Serviço Federal de Vigilância Sanitária Veterinária e Vegetal da Rússia sobre a ampliação das restrições. O coordenador-geral de combate à doenças do Ministério da Agricultura, Jamil Gomes de Souza, disse que a Rússia justificou a ampliação como uma medida sanitária, resultado da expansão da aftosa no País.
Segundo o ministério, os embarques feitos até 13 de dezembro estão autorizados. Os Estados barrados ontem por Moscou respondem por quase toda a venda do Brasil para a Rússia. Souza observou, no entanto, que não é possível dimensionar o impacto financeiro do embargo. Para o Brasil, a Rússia pode estar com estoques altos de carne. Ele acrescentou que o inverno rigoroso na região dificulta o desembarque de cargas nos portos da Rússia nos próximos meses.
Ele disse ainda que a medida é temporária e que a expectativa é reverter a suspensão o mais rápido possível. Para viabilizar as negociações, uma missão do governo brasileiro embarca terça-feira para Moscou. "Queremos conhecer as razões do embargo para depois negociar." Ele indicou que o governo brasileiro não entendeu o motivo do embargo à carne do Rio Grande do Sul, que não faz divisa com Paraná nem com Mato Grosso do Sul.
A ampliação do embargo da Rússia foi a primeira suspensão após ter sido confirmado o 29º foco de aftosa no País, em São Sebastião da Amoreira (PR). Os outros 28 são em Mato Grosso do Sul.