Título: Risco pode ser a politização do bloco
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2005, Economia & Negócios, p. B4

Mas AEB reconhece vantagens comerciais para o Brasil com entrada da Venezuela

A entrada da Venezuela no Mercosul pode trazer algum ganho no comércio bilateral para o Brasil, mas traz o risco de politização do bloco e pode representar a "oficialização do enterro da Alca (Área de Livre Comércio das Américas)". A avaliação é da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Até outubro, o superávit comercial brasileiro com a Venezuela cresceu 62% e chegou perto de US$ 1,6 bilhão. O vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro, reconhece que a redução de barreiras abre perspectiva de novas exportações para empresas brasileiras. Até outubro, enquanto o Brasil exportou US$ 1,811 bilhão para o país sul-americano, a Venezuela importou apenas US$ 218 milhões. Favorecido pelas receitas de exportações de petróleo, o novo integrante do Mercosul tem condições de ampliar compras de produtos.

Ele indica, contudo, riscos na área política. "O ingresso pode ser interessante, desde que não haja uso político, para agredir os Estados Unidos", diz Castro.

O vice-presidente da AEB argumenta que o novo parceiro vai, no mínimo, dificultar as negociações com os Estados Unidos. Caso a decisão relativa ao acordo da Alca exija unanimidade dos integrantes do bloco, praticamente será o fim definitivo da nova área de livre comércio, avaliou. Ele comenta que enquanto a Argentina foi uma espécie de "bônus" para a negociação política, a Venezuela acabará sendo um "ônus".

Castro explica que, teoricamente, o Brasil poderia se beneficiar do ingresso do novo parceiro no Mercosul, porque poderia abocanhar mercado dos Estados Unidos, que vendem muito para a Venezuela. "Pode gerar algum ganho, porque o Brasil deslocaria os Estados Unidos. Mas é preciso estar consciente de que a entrada da Venezuela pode ser interpretada como um distanciamento dos Estados Unidos", afirmou o especialista.