Título: Os investimentos da Petrobrás
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2005, Economia & Negócios, p. B2

A Petrobrás pretende realizar em 2006 investimentos da ordem de R$ 38,5 bilhões, segundo informou o diretor de Exploração e Produção, Guilherme Estrella, na semana passada. Será um expressivo aumento dos recursos aplicados, quase o dobro dos R$ 21 bilhões de 2004 e cerca de 30% a mais do que os R$ 30 bilhões previstos para 2005, mas o desafio estará em preservar o retorno das aplicações. Causa estranheza, por isso, o fato de o diretor da estatal anunciar a estratégia de repartir os investimentos de 2006 de maneira a beneficiar maior número de regiões. Esta pode ser uma política de governo, voltada para a melhora da distribuição regional da renda, mas não deveria ser a política de uma companhia estatal. A Petrobrás - como as outras companhias governamentais - precisaria se orientar como se fosse uma empresa privada, buscando o melhor resultado possível para os investimentos, independentemente de onde sejam feitos.

Muitas vezes, em sua história, a Petrobrás agiu como extensão do Estado. Na era Geisel, investiu pesadamente em petroquímica, fertilizantes e na distribuição de combustíveis, em vez de se concentrar na exploração e na produção de petróleo.

Hoje a situação é diferente. A quase totalidade do lucro da empresa vem da exploração e produção de petróleo, no Brasil e no exterior. Isso se deveu às políticas de investimento adotadas em meados da década passada.

No último biênio, a rentabilidade da Petrobrás nem sempre tem acompanhado a de suas congêneres no exterior, embora o petróleo atingisse o pico histórico de US$ 70 o barril. Mesmo agora, com as cotações da commodity em patamar próximo de US$ 60 o barril, os preços são suficientes para assegurar alta lucratividade.

A Petrobrás trabalha com a expectativa de declínio da produção da Bacia de Campos e por isso pretende elevar os investimentos nas Bacias de Santos e Espírito Santo, que são promissores. Além disso, novas e gigantescas descobertas de gás natural estão sendo pesquisadas na Bacia de Santos tanto pela Petrobrás como por investidores estrangeiros.

O risco é a queda da rentabilidade em outros investimentos, como refinarias e petroquímica. Em 2006, deverão começar as obras do Complexo Petroquímico Integrado, no Rio, mas não se sabe o município que receberá os investimentos. E está sendo iniciada a construção de uma refinaria em Pernambuco para processar petróleo venezuelano, em parceria com a PDVSA.

Os lucros obtidos com o petróleo valorizado têm de ser muito bem empregados, para que a rentabilidade seja mantida no longo prazo, inclusive em fases ruins.