Título: Lula pede pressão sobre europeus
Autor: Denise Chrispim Marin, Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um apelo aos seus colegas do Mercosul para que telefonem aos chefes de Estado de outros países, em um esforço para pressionar os europeus a avançarem nas negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC). "Do contrário, vamos passar mais 20 anos com os pobres mais pobres e com os ricos mais ricos", afirmou Lula. "Nossos ministros e técnicos fizeram todos os esforços para que nessa rodada os pobres se tornem menos pobres e para que países pobres e emergentes tenham acesso aos mercados dos países mais ricos e que essas nações reduzam os subsídios agrícolas", afirmou.

Lula conversou recentemente sobre o assunto com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Ele vai telefonar ainda para a chanceler alemã, Angela Merkel, e para o presidente francês, Jacques Chirac, que está tentando convencer os dirigentes da União Européia a apresentarem uma proposta melhorada de acesso a mercado.

O documento final da Reunião de Cúpula do Mercosul destacou, no seu parágrafo 41, que a decisão dos países da OMC de eliminar todas as formas de subsídio às exportações agrícolas em 2010 daria um impulso às negociações da Rodada Doha. Essa é a principal expectativa do Brasil, de seus vizinhos sul-americanos e de aliados do G-20 para a conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio em Hong Kong, na próxima semana.

ESTIGMA

A rigor, a reunião começa com o estigma do fracasso, por ser impossível desatar a questão central do momento - o acesso aos mercados agrícolas, cuja principal resistência vem da União Européia.

No texto do comunicado, os presidentes dos cinco países do Mercosul - Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela -, além de Chile e Bolívia, reafirmaram que atuarão de forma coordenada durante a Rodada, em especial em Hong Kong.

Reforçaram também que é preciso alcançar o nível de ambição em agricultura definido no mandato da Rodada - a eliminação dos subsídios à exportação, a redução substancial do apoio aos produtores agropecuários e a abertura de mercados - e que as economias mais desenvolvidas devem "demonstrar efetiva liderança".

"Em especial, é fundamental uma oferta substancialmente melhorada por parte da União Européia em acesso a mercados para produtos agrícolas", assinala o comunicado. "Isso facilitará a indispensável redução substancial e efetiva dos subsídios domésticos dos Estados Unidos, da própria Europa e de outros países ricos", completou.