Título: Para Amorim, Brasil pode mediar diálogo Bolívia-EUA
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2006, Nacional, p. A4

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, indicou ontem que o Brasil pode agir como mediador do diálogo de Cuba, Venezuela e o novo governo da Bolívia, sob o comando de Evo Morales, com os Estados Unidos. Diante do novo panorama na região, a orientação do presidente Lula foi de preservar as "relações fortes" com esses países, sem "abandonar" nem "contaminar" o bom nível de entendimento com os EUA. O recado surgiu a 9 dias da chegada de Morales, que fará visita de cortesia a Lula na condição de presidente eleito. No dia 22, Lula vai prestigiar a posse de Morales, em La Paz. No meio tempo, em 19 de janeiro, o venezuelano Hugo Chávez novamente se reunirá com Lula e o presidente argentino, Néstor Kirchner, em Brasília, para tratar da aliança Brasil-Argentina-Venezuela no campo energético.

"Sempre que pudermos conversar e ajudar, o presidente Lula o fará. Ele já o fez no passado e o fará no futuro, sempre que for bem visto pelos dois lados", disse Amorim. "Não abandonaremos as boas relações com os EUA, na medida em que continuem nos respeitando. E não vamos abandonar a amizade do presidente Chávez e do povo venezuelano. O mesmo vale para Morales", argumentou. "O Brasil é o Brasil. Não há razão para ficar preocupado (com a aliança Bolívia-Venezuela-Cuba)."

No encontro com embaixadores, Lula reforçou a orientação de que o Brasil mantenha sua política de generosidade com os parceiros da região, sobretudo os mais pobres, como a Bolívia. Mesmo depois de La Paz aprovar a nacionalização dos investimentos estrangeiros de petróleo e gás, o que afeta diretamente o US$ 1,5 bilhão aplicado pela Petrobrás no país.

Segundo Amorim, o Brasil manterá projeto com a Bolívia de construção de um pólo gás-químico e a defesa do seu ingresso como membro pleno do Mercosul. "Ser mais generoso não quer dizer ser bonzinho, mas pensar também no interesse de longo prazo de paz, de estabilidade, de manter uma fronteira que não seja sinônimo de contrabando, narcotráfico e guerrilha." Ele não antevê "grandes conflitos" na questão dos investimentos da Petrobrás.