Título: Israelenses acompanham internação pela TV
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2006, Internacional, p. A10

Os sorrisos dos astros das tevês israelenses foram substituídos por noticiários nervosos por volta das 22h30 em Israel (18h30 em Brasília), quando todos os canais de TV suspenderam suas programações normais para transmitir informações sobre a saúde do primeiro-ministro Ariel Sharon. O primeiro flash foi dado por um repórter da popular rádio Reshet Bet, a mais ouvida do país. Através de escuta policial, ele descobriu que Sharon estava sendo levado de ambulância para o Hospital Hadassa Ein-Kerem, em Jerusalém. A partir de então, foi só correria. Em poucos minutos, os principais apresentadores, repórteres, comentaristas e analistas de rádio, TV e também da mídia impressa estavam a caminho das redações, estúdios ou do hospital onde Sharon foi internado.

Ao contrário do dia 18 de dezembro, quando Sharon sofreu um derrame cerebral leve, o clima era mais pesado ontem. A gravidade da situação podia ser sentida no ar. Porta-vozes de Sharon e do hospital fizeram questão de atualizar a imprensa israelense e estrangeira logo depois que o primeiro-ministro foi internado. Isso porque, duas semanas antes, eles foram acusados de ineficiência na transmissão de informações à nação.

Naquele dia, demorou mais de uma hora até que Israel Maimon, secretário de governo, fizesse o primeiro pronunciamento. Alguns jornalistas chegaram a acusar a assessoria de Sharon de tentar esconder deliberadamente a verdadeira condição de saúde do líder israelense. Isso porque não pegaria bem que ele parecesse ¿doente¿ a três meses das eleições no país.

Dessa vez, tudo foi diferente. A imprensa estava mais preparada e os porta-vozes, mais transparentes. Nas primeiras duas horas após a internação, as rádios e tevês israelenses tentaram destrinchar o quadro de saúde de Sharon entrevistando especialistas em derrames e doenças coronárias.

Em segundo lugar no ranking dos entrevistados ficaram os advogados e especialistas nas leis parlamentares, que explicaram o procedimento de transferência de poderes de Sharon para o vice-primeiro-ministro Ehud Olmert.

Só depois, começaram as especulações políticas quanto ao futuro do Kadima, o partido criado por Sharon há pouco mais de um mês e meio e que, até esse contratempo, era o favorito para vencer as eleições, assegurando nada menos do que 40 das 120 cadeiras no Parlamento. Ministros e personalidades em geral começaram a divulgar notas desejando a pronta recuperação do líder.

Até meados de dezembro, Sharon, que completa 78 anos em 27 de fevereiro, era considerado um dos líderes mais saudáveis que Israel já teve. Apesar da obesidade e de ter sido ferido gravemente na Guerra de Independência, em 1948, Sharon não dava sinais de fraqueza física. A última vez em que esteve num hospital foi em fevereiro de 2005, para retirar pedras dos rins.

Aos que pediam para ver sua ficha médica, ele respondia com ironia, dizendo que sua mãe viveu até os 88 anos e dois tios morreram só por volta dos 100. Mesmo assim, Sharon andava acompanhado, nos últimos tempos, por um paramédico e por seu médico particular.Após o derrame do dia 18, Sharon continuou a fazer troça dos que se preocupavam com sua saúde. Mas passou a evitar comer doces e frituras.

Chegou a perder três quilos de seus supostos 118.