Título: Inflação em SP é a menor em 5 anos
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

A inflação na cidade de São Paulo encerrou 2005 com a menor marca em cinco anos, na terceira desaceleração anual consecutiva. O Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) subiu 4,53% no ano passado e ficou dois pontos porcentuais abaixo do resultado de 2004 (6,56%). No começo do ano passado, a projeção da Fipe era de que o indicador oscilasse entre 5% e 5,5%. Para este ano, a previsão inicial do coordenador do IPC-Fipe, Paulo Picchetti, é que o índice repita o desempenho de 2005, levando-se em conta só os fundamentos econômicos. "Mas num ano eleitoral as previsões de inflação são muito sensíveis", ressalva. Ele lembra que, em 2002 e 2003, as expectativas eleitorais contaminaram os indicadores, com a alta do risco país e do dólar, e fizeram desandar a inflação.

Três anos consecutivos de desaceleração denotam um certo equilíbrio dos preços. "Mas é uma estabilidade frágil, e não dá para relaxar", diz Picchetti. Segundo ele, o custo dessa estabilidade, provocada pela alta dos juros, foi uma redução do nível da atividade econômica, elevação do serviço da dívida interna e a valorização do real, que no médio prazo terá impacto nas exportações, observa o economista. "O País trocou a hiperinflação por juros elevados." O desafio, a partir de agora, argumenta, é manter o equilíbrio dos preços sem custos.

TARIFAS

Picchetti observa que a inflação em 2005 contrariou o comportamento do índice de anos anteriores. "A maior pressão de alta no IPC-Fipe não veio das tarifas." Em 2005, os serviços de utilidade pública, que reúnem itens como energia elétrica, água e esgoto, gás de botijão e gás canalizado, subiram 2,34%, a menor alta desde o início do Plano Real. Juntos, eles responderam por 4,30% da inflação anual.

A energia elétrica, por exemplo, teve desempenho inédito: fechou 2005 com queda de 2,29%, resultado do fim do subsídio cruzado e do menor nível do IGP, que é indexador dessa tarifa. Em 2003 e 2004, os serviços de utilidade pública subiram 15,10% e 9,13%, respectivamente. Em 2003, responderam por 14,78% do IPC-Fipe e em 2004, por 11,34%. Para este ano, Picchetti diz que as tarifas públicas também não devem ser foco de pressão da inflação por causa do baixo nível do IGP.

Além das tarifas, outro movimento atípico do IPC-Fipe em 2005 foi o fato de os alimentos não terem pressionado a inflação. O grupo alimentação ficou praticamente estável no ano (0,47%) e respondeu por 2,39% do IPC-Fipe anual. A crise na agricultura, que apressou a venda dos estoques, e o dólar desvalorizado ajudaram a baixar os preços dos alimentos, apesar da quebra da safra no Sul e da crise da aftosa nas carnes.

O economista ressalta que a inflação de 2005 foi marcada pela alta dos serviços. Saúde, educação e transportes responderam por dois terços do índice. Sem o transporte, o IPC-Fipe de 2005 teria sido de 2,54%, dois pontos abaixo do apurado.