Título: Planalto se mobiliza para evitar convocação
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2005, Nacional, p. A17

O esforço do governo por um acordo com PSDB e PFL que permita votar o orçamento de 2006 da União prosseguirá na próxima semana. O ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, já conversou com a cúpula tucana e agora vai procurar os líderes do PFL, incluindo até o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), seu desafeto político e um dos principais defensores do boicote à votação do orçamento. Seja qual for o resultado da conversa com a oposição, que não quer esfriar o clima de disputa política, o governo terá de atuar com um partido parcialmente integrado à base: o PMDB. O Planalto não gostou de saber, via líderes do PSDB, que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), planeja encerrar dia 15 a sessão legislativa e convocar o Congresso extraordinariamente entre 10 de janeiro e 10 de fevereiro. Surpreso, Wagner telefonou ontem para o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), que está contra a convocação, para conversar sobre a posição de Renan.

O Planalto quer a ajuda de Aldo para convencer Renan, com quem tem boa relação. Se não conseguir, dará o troco: vai congelar a nomeação de Paulo Lustosa para o comando da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), um pleito da bancada do PMDB no Senado, até a votação do orçamento. Segundo interlocutores de Lula, também há insatisfação com deputados do PMDB que ameaçariam obstruir a votação se seus Estados não forem contemplados com emendas.

Em encontro quinta-feira à noite, o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM), deixou claro a Wagner que a oposição considera o funcionamento do Congresso em janeiro conveniente politicamente, já que poderá usar a tribuna e as CPIs para expor o governo. É justamente isso que o governo não deseja.

Também move os defensores da convocação a ajuda de custo que receberão. Até fevereiro são R$ 12.847 mensais, o 13º, e quatro ajudas de custo: duas pela convocação e duas que são pagas no fim do ano (dezembro) e no início da sessão legislativa.

Na terça-feira, Aldo e Renan vão se reunir com todos os líderes. Em conversas preliminares, o presidente da Câmara avaliou que, mesmo com o dinheiro extra, a tendência dos parlamentares é não aparecer nas sessões, o que desgastará ainda mais a imagem do Congresso.

Senadores do PSDB disseram a Wagner que estão cansados do clima da CPI, mas abrem mão do recesso para manter o palanque do Congresso. "Temos três semanas até o fim do mês para avançar em muitas propostas, principalmente no orçamento", reagiu o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), também contra a convocação.