Título: Para montadoras, vantagem do motor flex permanece
Autor: Leonardo Goy
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2006, Economia & Negócios, p. B3

Abastecer o automóvel flex com álcool deixará de ter vantagem financeira quando o preço do combustível custar mais de 70% do litro da gasolina. Atualmente, com os novos reajustes, a diferença já está no limite em vários estabelecimentos da capital paulista, diz o diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), Hélio Pirani Fiorin. Quando abastecido com álcool, o automóvel consome cerca de 30% a mais em relação à gasolina. Fiorin calcula que o álcool estará custando nas bombas esta semana cerca de R$ 1,70 o litro, enquanto a gasolina será oferecida a R$ 2,40, em média. Postos abastecidos pela Petrobrás receberam ontem álcool com novo aumento de 7,5% e a gasolina a R$ 0,05 mais cara.

Para a indústria automobilística, que hoje oferece a maioria dos modelos de carros apenas na versão bicombustível, não estar preso a um único combustível é a principal vantagem da tecnologia flexível. "O flex liberta o consumidor de eventuais sazonalidades, como a atual", defende o presidente da Fiat Automóveis, Cledorvino Belini. Também evita que o carro fique parado na falta de combustível, como ocorreu no fim da década de 80 quando houve desabastecimento de álcool.

Segundo o executivo, o consumidor pode optar pela gasolina, se for vantajoso, e voltar a usar álcool quando a crise acabar. Em sua opinião, o próprio consumidor pode forçar os preços a caírem na medida em que reduzir o consumo de álcool. Ele lembra ainda que a tecnologia flex não alterou os preços dos automóveis, beneficiados com a alíquota de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) menor em relação a modelos à gasolina.

Quando foi lançado, no início de 2004, o Mille flex custava R$ 300 mais caro que a versão a gasolina. Já os carros lançados mais recentemente, como o Palio, absorveram esse custo.

Fiorin teme, por sua vez, que os usineiros queiram manter a diferença no limite dos 70%, ante 50% há cerca de dois anos. "Quando o governo vai pedir aos usineiros que apresentem planilhas para justificar os reajustes?", indaga ele, ao criticar a falta de interferência governamental.

Em regiões fora de São Paulo, como Minas Gerais, o preço dos dois combustíveis sempre foram próximos. Hoje, entretanto, a diferença se ampliou e o álcool é vendido em Belo Horizonte por R$ 1,79 a R$ 1,89, enquanto a gasolina custa de R$ 2,20 a R$ 2,26.

Nas concessionárias de veículos novos, a alta do preço do álcool não interferiu nas vendas. "O cliente não tem opção, pois a maioria dos modelos está disponível apenas na versão flex", justifica o gerente de vendas da rede de lojas Viamar, da General Motors. Em dezembro, 71% dos automóveis vendidos no País eram equipados com motores flex.