Título: Auditório lotado e vigilância da ONU no início do julgamento
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2005, Nacional, p. A14

Políticos, autoridades e familiares acompanham depoimento dos pistoleiros; americanos preparam documentário sobre o caso

Durante todo o dia de ontem, autoridades, políticos e representantes de organizações de defesa dos direitos humanos do Brasil e do exterior desfilaram pelo auditório do tribunal do júri onde estão sendo julgados os assassinos de Dorothy Stang, que morreu defendendo os interesses de uma comunidade de pequenos agricultores assentados no sudoeste do Pará, no dia 12 de fevereiro. A representante especial da Secretaria-Geral de Defensores dos Direitos Humanos da ONU, a advogada paquistanesa Hina Jilani, acomodou-se na primeira fila do auditório. Logo depois, foi convidada pelo juiz que preside a sessão, Cláudio Montalvão das Neves, a se sentar ao lado dele, na mesa principal do plenário. Hina acompanhou o julgamento na parte da manhã.

O ministro Mário Mamede, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência, também esteve no tribunal pela manhã e foi chamado para a mesa pelo juiz.

O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, permaneceu durante alguns minutos no auditório. Entre os políticos presentes, avistava-se a senadora Ana Júlia (PT), integrante de uma comissão de parlamentares que produziu um relatório paralelo sobre o assassinato de Dorothy. Ela também ocupou um lugar ao lado do juiz, numa espécie de rodízio de personalidades.

Por alguns minutos, a americana Margarida Stang - irmã da freira - esteve na mesa, numa fileira de cadeiras situada atrás do juiz. Daquela posição, ela pôde encarar de frente o homem que confessou ter assassinado a religiosa com seis tiros, Rayfran Sales, o Fogoió.

Atrás dela, dominando todo o tribunal, uma enorme pintura a óleo, retratando uma justiça cega e de cabelos longos e esvoaçantes, ladeada por Moisés, com as tábuas da lei, e Jesus, com um livro aberto.

Dezenas de jornalistas acompanharam a sessão. No plenário, separado da platéia por uma pequena amurada de madeira, um grupo de cinegrafistas americanos movimentava-se . Eles estão produzindo um documentário sobre o caso. Em determinado momento, logo no início dos trabalhos, havia 72 pessoas no reduzido espaço do plenário, entre advogados, promotores, seguranças, juízes, convidados, acusados, jurados.

LENTIDÃO

Ao abrir a sessão, o juiz aproveitou a presença das autoridades e da imprensa para fazer um discurso com comentários sobre a lentidão nos procedimentos do tribunal do júri. Neves falou particularmente de uma tese que levantou em 1999, em defesa da eliminação de uma das fases do processo, por considerá-la repetitiva. Foram quase quinze minutos de discurso.

Previsto para iniciar às 8 horas, o julgamento só começou às 8h40. Parte do atraso foi devida a uma confusão ocorrida na área da defesa dos acusados. No último minuto, o advogado Eduardo Imbiriba desentendeu-se com seu cliente, O Fogoió, e afastou-se do caso. Quem assumiu a defesa foi a defensora pública Marilda Cantal, que já tinha sido encarregada de cuidar dos interesses Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo.