Título: Mil sem-terra cercam tribunal e cobram justiça
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2005, Nacional, p. A14

Sindicalista rural percorreu 600 km de ônibus para ver julgamento em Belém

Enquanto os dois réus acusados pelo assassinato da religiosa Dorothy Stang são julgados no edifício do Tribunal de Justiça do Pará, do lado de fora, na Praça Felipe Patroni, estão concentrados cerca de mil trabalhadores rurais. Foram mobilizados por sindicatos ligados à Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), ao Movimento dos Sem-Terra (MST) e à Comissão Pastoral da Terra (CPT). O objetivo é pressionar o Judiciário do Estado para que puna os responsáveis pelo crime. Eles se revezam nas cadeiras da platéia do tribunal. Quem não entra acompanha os depoimentos e exposições por meio de telões e alto-falantes instalados na praça. Ontem, pela manhã, um dos ouvintes mais atentos do que ocorria no julgamento era o sindicalista Sebastião Rodrigues de Castro, que tinha passado a noite em um ônibus, percorrendo os 600 quilômetros que ligam Marabá, onde ele vive, a Belém.

O nome de Sebastião figura nas listas de pessoas ameaçadas de morte no Estado. Ele contou que há semanas tem vivido como um foragido, dormindo em lugares diferentes a cada noite, pois está sendo perseguido. "Sempre tem alguém perguntando por mim nos lugares por onde passo", disse. "Sou bastante conhecido na comunidade onde atuo. E neste momento estamos no meio de uma disputa judicial pela posse de um terreno numa área de assentamento rural. Recebo todo dia ameaças por telefone."

No acampamento também são realizados shows sobre direitos humanos e sindicalismo, além de shows com artistas dos próprios movimentos rurais. Ontem, às 21h30, podia-se ouvir cantorias e bateção de palmas nas praça. Cantavam Zé Ramalho: "Êê ôô vida de gado, povo marcado, povo feliz."

Pela manhã, às 8 horas, tinham recebido a visita da representante do Secretariado-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Defensores dos Direitos Humanos, a quem relataram os problemas que enfrentam no Estado. Em todos os lados da praça, faixas lembram Dorothy, assegurando que seu sangue não foi derramado em vão.