Título: Bolsa rompe barreira dos 35 mil pontos.Dólar e risco país desabam
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2006, Economia & Negócios, p. B4

O dólar comercial resistiu às ações do Banco Central (BC) e, mais um vez, despencou. A moeda americana fechou cotada em R$ 2,29, com forte queda de 1,76% - ignorando os esforços da autoridade monetária. Além dos já tradicionais leilões de swap reverso, em que oferece contratos que pagam taxa de juros em troca de operações feitas em dólar, o BC também atuou na compra da moeda no mercado à vista. Mas as operações de nada adiantaram, já que o ambiente é extremamente positivo. "O BC está tentando reverter uma tendência cada vez mais forte. Todas as moedas no mundo têm apresentado alta valorização", destaca a economista da Mellon Global Investments, Solange Srour Chachamovitz.

Entre as explicações para o constante recuo do dólar está o surpreendente resultado das exportações brasileiras, que aumentam a oferta da moeda no mercado. Junta-se a isso a euforia do cenário internacional, que ainda ontem repercutia a divulgação da Ata do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Conforme o documento, o ciclo de aperto monetário dos EUA pode estar próximo do fim, ao contrário do que os analistas previam. No Brasil, além da queda do dólar, a notícia contribuiu para novos recordes. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ultrapassou os 35 mil pontos. O Ibovespa fechou com alta de 1,34%, em 35.002 pontos.

No mercado de títulos, o risco país, que mede a confiança do mercado internacional no pagamento das dívidas de uma nação, repetiu o desempenho dos últimos dias e atingiu 291 pontos, com queda de 3,64% até 19h20 de ontem. Em dois dias, o índice caiu 6,43% e 26,33% no período de um ano.

"Nas últimas semanas, o risco país do Brasil tem caído mais rapidamente que a média dos demais emergentes", avalia o economista-sênior do BankBoston, Marcelo Cypriano. Segundo ele, o recuo do índice é resultado da contínua melhora dos índices de solvência externa, que mostram a capacidade de o País pagar seus compromissos.

Ele afirma que o aumento das reservas brasileiras, em torno de US$ 54 bilhões, dão mais segurança ao mercado. "Já tem gente esperando uma antecipação, pelo Brasil, de pagamentos externos", comenta ele. Além disso, a dívida externa diminuiu. Há dois anos, diz Cypriano, o débito era de US$ 220 bilhões e caiu para cerca de US$ 219 bilhões, em novembro.

Segundo Solange, em seu relatório sobre perspectivas e riscos para 2006, o Brasil também melhorou o perfil da dívida externa, com a troca do C-Bond (título brasileiro negociado no exterior) pelo A-Bond, com emissão em reais e com a antecipação do pagamento da dívida com o FMI no final do ano passado, que venceria em 2008.

Outro fator positivo, conforme ela, é a balança comercial positiva, que conseguiu reverter um déficit em conta corrente de 4,6%, em 2001, para um superávit que deve fechar 2005 em torno de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Cypriano acrescenta que não há nenhuma indicação de que a balança comercial vá arrefecer, especialmente porque o País deverá aumentar a produção de petróleo neste ano. Isso tem impacto na balança.

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No ano passado, o volume de dólares que entrou no País superou as saídas em US$ 18,819 bilhões, segundo balanço do fluxo cambial divulgado ontem pelo Banco Central. Nessa conta, entram todas as operações em moeda estrangeira do País. O resultado de 2005 foi o maior desde 1992, quando o ingresso líquido ficou em US$ 20,771 bilhões. Naquele ano, o Brasil começava a dar os primeiros passos para desregulamentar seu mercado de câmbio.

O resultado do ano passado, segundo o economista da Consultoria Tendências, Guilherme Loureiro, foi puxado pelo crescimento das exportações. "Com o forte crescimento da economia mundial, tivemos excelente desempenho das nossas exportações."

O ingresso dos chamados capitais especulativos, segundo o economista da Tendências, não teve tanta influência no resultado do ano passado. "O resultado do fluxo de recursos financeiros ficou negativo", disse Loureiro, ao destacar que as saídas de capitais superaram as entradas.

Com muitos dólares no mercado, o BC interveio e comprou cerca de US$ 21,8 bilhões em 2005. A maior parte foi usada para pagar US$ 15,5 bilhões da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Neste ano, Loureiro acredita que a entrada de dólares poderá superar as saídas em cerca de US$ 15,7 bilhões.