Título: Delúbio: dinheiro para Coteminas saiu do cofre do PT
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2005, Nacional, p. A7

Ele contou à PF que pediu a Solange Pereira que pegasse R$ 1 mi no diretório e o entregasse a Marice Correia para fazer o pagamento

Em depoimento ontem à Polícia Federal, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares reafirmou que o partido fez o pagamento de R$ 1 milhão à Coteminas com dinheiro repassado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Segundo investigadores da PF, ele não esclareceu todos os detalhes da operação e, por isso, vai depor de novo, em data ainda não acertada.

Delúbio contou à PF que, do total de mais de R$ 55 milhões recebidos do chamado valerioduto, R$ 4,9 milhões foram para o Diretório Nacional do PT. Os recursos, não contabilizados, foram recebidos entre março de 2003 e outubro de 2004.

O depósito em favor da Coteminas foi para pagar parte do fornecimento de camisetas usadas na campanha de 2004. Segundo fontes da PF, Delúbio disse que o dinheiro usado saiu do cofre do PT. Explicou que não consultou ninguém do partido e tomou sozinho a decisão, porque se se sentiu obrigado a pagar as camisetas. Disse que foi pressionado por diretores da Coteminas a quitar a dívida - ainda faltam mais de R$ 12 milhões -, mas garantiu que não sofreu pressão do vice-presidente José Alencar, um dos proprietários da empresa.

No depoimento, Delúbio afirmou ainda que se lembrava de dois pagamentos feitos pelo PT com base nos R$ 4,9 milhões recebidos de Valério. Um foi o da Coteminas. O outro, de R$ 450 mil, foi para pagar honorários do advogado Aristides Junqueira, ex-procurador-geral da República, contratado para acompanhar as investigações do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel.

Para pagar à Coteminas, Delúbio contou que acionou duas funcionárias do PT em São Paulo: pediu a Solange Pereira que retirasse o dinheiro, que estava no cofre do diretório, e o entregasse a Marice Correia, para fazer o pagamento. Mas ele disse que não sabia como o dinheiro foi transportado. De acordo com diretores da Coteminas, o pagamento foi feito em dinheiro vivo, depositado numa conta da empresa no Bradesco, em São Paulo.

ESQUEMA

O ex-tesoureiro disse não ter conhecimento de que Valério tenha feito depósitos no exterior, na conta Dusseldorf, para pagar dívidas do PT com o publicitário Duda Mendonça. Alegou que só determinava a Valério que fizesse os pagamentos, mas não sabia de que forma eram feitos. Ao se esquivar de dar maiores esclarecimentos à PF, insistiu em que não tinha controle rígido dos repasses de recursos do esquema de Valério.

Ele assegurou aos delegados que não sabe quem é Roberto Marques, que aparece como indicado para fazer saque de R$ 50 mil numa conta da SMPB, empresa de Marcos Valério, no Banco Rural, em São Paulo. Há suspeitas de que se trata do Roberto Marques que foi assessor, em São Paulo, do ex-deputado e ex-ministro José Dirceu.

As duas funcionárias do PT citadas por Delúbio devem ser ouvidas pela PF na próxima semana. Os delegados da PF Luiz Flábio Zampronha, Praxiteles Praxedes e Pedro Ribeiro tomaram o depoimento do ex-tesoureiro, que chegou à sede da PF às 14 horas e só foi embora às 18h30. Ele saiu acompanhado de sua advogada Flávia Rahal, e não quis dar entrevista.