Título: Amorim quer destravar logo alguns pontos da Rodada Doha
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, destacou a necessidade de uma reunião de líderes mundiais, ainda no início do ano, para destravar pontos centrais das negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e dar-lhes um impulso político. Embora não tenha confirmado a participação do presidente Lula na reunião anual do Fórum Econômico Mundial, que se realiza em Davos de 25 a 29 de janeiro, Amorim destacou que esse seria um momento adequado para que os governantes dos países mais influentes na OMC tomassem decisões políticas sobre a abertura dos mercados agrícolas.

"Hoje, entre os principais negociadores, a margem de manobra é muito limitada. As decisões são difíceis, especialmente aos mais reticentes sobre a liberalização agrícola, cujos argumentos estão caindo por falta de sustentação", afirmou Amorim, referindo-se aos europeus, logo depois de receber o ministro dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Alexander Downer. Este afirmou que "o que precisamos é de um pacote aceitável sobre acesso a mercados da União Européia. Temos a responsabilidade de tornar o sistema multilateral do comércio menos favorável aos países mais ricos e em disseminar seus benefícios aos menos desenvolvidos, sobretudo aos mais pobres".

Lula tem se empenhado pessoalmente na realização dessa reunião com chefes de governo para destravar a Rodada Doha. Ele já telefonou para o primeiro-ministro britânico, Tony Blair e para o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, para apresentar a idéia.

Preocupado, o presidente da França, Jacques Chirac, telefonou a Lula no último dia 21 para ponderar que, da forma como estava sendo proposta, a reunião poderia passar a impressão de que alguns poucos países decidiriam pelos demais.

A abertura agrícola mundial é um tópico central da Rodada, que continua travada pela resistência da União Européia em apresentar um pacote sobre o tema que possa ser considerado satisfatório pelos demais parceiros da OMC, sobretudo Estados Unidos, Brasil e seus aliados do G-20 (a frente de economias em desenvolvimento que insiste na abertura agrícola, na eliminação de subsídios à exportação e na diminuição substancial de subvenções agrícolas).

Na última Conferência Ministerial da OMC, em Hong Kong, encerrada dia 18 de dezembro, não houve avanços nessa área. Amorim explicou que, do ponto de vista do Brasil, a questão mais importante da Rodada Doha continua a ser a eliminação de subsídios, que distorcem o comércio agrícola mundial e impedem a participação competitiva de economias menos desenvolvidas e que dependem da exportação de bens do setor. Mas, na lógica atual, a liberalização de mercados agrícolas é o ponto-chave porque definirá se a negociação prosseguirá em 2006 em um ciclo virtuoso. Na prática, sem o sinal verde da UE sobre a abertura agrícola, os Estados Unidos não ampliarão sua oferta sobre subsídios domésticos e a Rodada tenderia a ser abandonada ou a ser fechada com um acordo mais modesto. Por enquanto, não há perspectivas de retomada da Rodada Doha.

A rigor, essa negociação deveria ser concluída até o final de 2006. Se passar desse prazo, será tumultuada por outros fatores.