Título: Presidente aposta que PSDB lançará Alckmin
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2005, Nacional, p. A5

Para ele, Serra, por outro lado, 'pagaria preço enorme por abandonar São Paulo'

PIB: "Foi uma notícia péssima. Esperava que não caísse tanto, esperava que até chegasse a zero." CRESCIMENTO: "Economista é que faz prognóstico, mas tenho dito para todo mundo que não tem por que o Brasil não crescer 5%, ou acima DE 5%, em 2006." REELEIÇÃO: "Vamos deixar isso para fevereiro ou março do ano que vem. Eu tenho muitas ressalvas ao instituto da reeleição. Espero que em 2006 possamos discutir uma reforma política para que, a partir de 2011, o presidente possa gozar de mandato maior, sem reeleição. Esse é um instituto mais pernicioso do que o mandato de cinco anos." FHC: "A máquina pública estava desmontada. Muitos ministérios não funcionavam, a nossa credibilidade era ruim, muito ruim." MST: "Trata-se de um movimento muito importante, muito sério, mas hoje a questão da terra não está apenas na mão dos sem-terra. Mudou a conjuntura nos últimos dez anos. (...) Duvido de que em algum momento da história os trabalhadores rurais tiveram o tratamento que estão tendo." TRAIÇÃO: "Ao dizer que me traíram não citei nomes, porque certamente não havia apenas um companheiro envolvido. O que disse foi o seguinte: essa prática nunca foi aceita por nós como uma prática decente. Quem fez, me traiu. " 2005: "Foi um massacre. Eu, certamente, não posso dizer, como presidente, tudo o que penso a respeito do que aconteceu em 2005. Um dia a história vai julgar." CHÁVEZ: "Eu não quero ser que nem o Chávez, nem o Chávez quer ser igual a mim." ESQUERDA: "Eu nunca gostei de me rotular de esquerda. Eu sou torneiro mecânico e cheguei à Presidência da República por obra e graça da paciência." TRECHOS DA ENTREVISTA DE LULA À REVISTA 'CARTA CAPITAL' Apesar das evasivas sobre o próprio futuro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já arrisca quem deve ser o candidato do PSDB ao Planalto em 2006: o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB). "Parece-me que tudo caminha para o Alckmin", disse, em entrevista à revista Carta Capital, distribuída ontem. Lula ainda alfinetou o prefeito de São Paulo, José Serra, hoje o único com chance de derrotá-lo, segundo as últimas pesquisas eleitorais: "O Serra pagaria um preço enorme por abandonar São Paulo."

Na entrevista de 12 páginas, sempre driblando perguntas sobre reeleição, ele arriscou uma previsão sobre a tática do PSDB: "Vão continuar desgastando o governo. Isso está explícito em todo discurso deles." Disse que gostaria de uma eleição civilizada, mas prevê uma disputa "feroz". "Enveredaram por um caminho errado, ao provocar a disputa eleitoral em 2005, com o intuito de desgastar a imagem do presidente e do PT."

Lula insiste que está indeciso sobre a candidatura à reeleição. "Vamos deixar isso para fevereiro ou março. Sei que minha candidatura é importante para uma parcela imensa da sociedade e para alguns partidos. Mas, por ora, só posso dizer que ainda não decidi", garantiu.

Para Lula, 2005 foi "um massacre" para seu governo e o PT. Ressaltou que admitiria ser candidato, se já soubesse que poderá dar o troco. Nas suas palavras: "Devolver aos acusadores as acusações que fizeram."

O presidente salientou que nunca se ajustou ao rótulo de militante da esquerda. "Sou um torneiro mecânico e cheguei à Presidência por obra e graça da paciência." Repeliu, ainda, comparações com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez: "Eu não quero ser o Chávez, nem o Chávez quer ser igual a mim." Mesmo assim, voltou a chamar o amigo de "democrata".

PALOCCI

Lula disse que a queda do Produto Interno Bruto (PIB) foi "uma notícia péssima", mas previu o Brasil pode crescer 5% ou mais em 2006. Também destacou que os juros vão continuar caindo. "Pode escrever que a política econômica vai crescer, os juros vão continuar caindo e vamos crescer mais fortemente até do que em 2004", garantiu.

Ele discordou da tese de que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tem amplo apoio do empresariado - para ele, isso é "meia-verdade". "Particularmente, acho que, não fosse o Palocci, a gente não teria chegado na situação de confiabilidade."

"Mas veja uma coisa: o que essa elite vendeu nos últimos 90 dias? Vendeu a idéia de que, se a economia está bem, não é por conta do governo. Donde então não precisam mais do Palocci", declarou. E se disse preocupado com a insistência em "cutucar" a vida do ministro. "Daqui a pouco, vão querer analisar se Palocci não cometeu heresias até no ventre materno."

Para o presidente, os atritos entre Palocci e outros ministros são normais. "O Brasil é o único país em que estranham divergências sobre economia."