Título: Presidente é desequilibrado, reage oposição
Autor: Denise Madueno
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2005, Nacional, p. A4

"Se houvesse golpismo por parte da oposição, ele já teria sofrido processo de impeachment", afirma Aleluia

Líderes oposicionistas classificaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "desequilibrado" e "emocionalmente abalado" ao reagirem de forma dura às declarações feitas por Lula, que chamou setores da oposição de "golpistas". Oposicionistas disseram que, se fossem golpistas, Lula já teria sido afastado do cargo por causa das denúncias contra o governo. "Se houvesse golpismo por parte da oposição, ele já teria sofrido processo de impeachment. O governo acumula recordes de denúncias de corrupção sistêmica", afirmou o líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA). Ele ressaltou que essas denúncias partiram de ex-aliados de Lula, de membros do partido do presidente, do Ministério Público e da imprensa.

"Não há intenção golpista. A oposição tem o dever de fazer sugestões, criticar e fiscalizar. É um governo sob suspeita", continuou o pefelista. "O presidente está, de forma acelerada, perdendo a compostura de chefe de Estado", criticou Aleluia. A declaração do presidente piorou a relação com os partidos de oposição às vésperas de o Congresso votar a proposta de orçamento da União.

"O orçamento do presidente Lula é uma farsa. Estabelece um crescimento de 4% do PIB sabendo que isso não irá acontecer. É difícil aprovar algo que é uma farsa. Além disso, o relacionamento é muito ruim (entre oposição e governo) porque o presidente não estava preparado para governar", disse Aleluia. Para o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), Lula "deve estar emocionalmente abalado com o aparecimento sistêmico de denúncias contra o governo e contra o PT".

O líder citou a revelação de que o PT pagou R$ 1 milhão em dinheiro a Coteminas, empresa do vice-presidente José Alencar, como outra denúncia que Lula deveria dar explicações. "O PT não tinha capacidade de crédito para comprar R$ 12 milhões em camisetas. Isso só pode ter acontecido com ingerência política em empresa de capital aberto", afirmou Maia.

"O presidente Lula começa a dar demonstração de desequilíbrio", sentenciou o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP). O tucano defendeu a oposição e lembrou que no passado, quando Lula e o PT opunham-se ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o partido do presidente chegou a pedir "Fora FHC". "Estamos trabalhando para vencermos as eleições do ano que vem e torcemos para que ele (Lula) deixe o Brasil sem o desastre que se anuncia na sua política", disse Goldman.

O tucano se referiu à Venezuela para concluir que são situações diferentes. "Não temos semelhança em qualquer ação nem com movimentos populares nem com as Forças Armadas. Portanto, (as declarações) mostram que a perda de respeitabilidade e credibilidade do presidente Lula está começando a afetar o seu equilíbrio."

O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), classificou de "reclamações improcedentes" as declarações do presidente. "Tenho pena de nós, brasileiros, que teremos de aturar por mais um ano essa lengalenga do irresponsável presidente, o mais incompetente da nossa história republicana", reagiu. Ontem, em Montevidéu, Lula ainda comparou a oposição com grupos que tentaram, na Venezuela, derrubar o presidente Hugo Chávez.

"Alguns ficam dizendo que, quando eu vou fazer um ato público, eu ajo que nem o Chávez. E eu digo: eu não estou agindo como o Chávez. Agora, os meus adversários estão agindo como a Federação agiu contra o Chávez", disse Lula, referindo-se à Fedecamaras, principal entidade empresarial da Venezuela. "Ou seja, eles estão tentando fazer golpismo", afirmou Lula.