Título: Lula chama oposição de golpista e diz que não age como Chávez
Autor: Denise Chrispim Marin, Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2005, Nacional, p. A4

Em encontro do Mercosul, no Uruguai, ele compara opositores aos que tentaram derrubar o governo venezuelano em 2002

Em seu ataque mais duro à oposição desde o início da crise política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que seus adversários são golpistas. Durante rápida entrevista à saída de reunião de cúpula do Mercosul, ele comparou o modo de agir de seus opositores ao dos setores que, em abril de 2002, conseguiram derrubar temporariamente o coronel Hugo Chávez da presidência da Venezuela, em abril de 2002. Foi a primeira vez que afirmou publicamente que vê, na atitude dos adversários, um componente antidemocrático e desestabilizador. "Alguém fica dizendo que eu, quando vou fazer um ato público, ajo que nem o Chávez. E eu digo: não estou agindo como o Chávez. Agora, os meus adversários estão agindo como a federação contra o Chávez", afirmou Lula, referindo-se à Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela (Fedecámaras), a maior entidade empresarial do país e também o foco de maior resistência à eleição de Chávez. "Ou seja, eles estão tentando o fazer golpismo." Em abril de 2002, o presidente da Fedecâmaras, Pedro Carmona Escanga, foi o principal articulador do golpe de Estado que derrubou Chávez e o levou à prisão. Sem apoio internacional, Carmona acabou destituído dias depois, e Chávez retomou o poder. O líder empresarial refugiou-se na Colômbia, mas a Fedecámaras prosseguiu sua atuação antichavista. Suas iniciativas foram mais contundentes durante o plebiscito do mandato de Chávez, em agosto passado, que igualmente confirmou a permanência do coronel no poder.

Até o momento, Chávez valeu-se desse mal sucedido golpe de Estado e da oposição cerrada dos setores empresariais como argumento para posar de vítima e para justificar seus recorrentes ataques contra os Estados Unidos, a quem acusa de patrocinar as campanhas e iniciativas da oposição.

O presidente venezuelano vinha sendo, na prática, o "titular" dessa posição de vítima das pressões adversárias - no caso, externas - à qual parece aderir, agora, o presidente brasileiro. Desde o retorno da democracia ao Brasil, soube-se de um único caso em que um presidente expressões temores de um golpe de Estado: foi Itamar Franco, em declarações desmentidas no dia seguinte.