Título: Brasileiro se casa cada vez mais tarde e se separa menos
Autor: Robson Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2005, Vida&, p. A24

Em 2004, houve 7,7% mais casamentos e 3,7% menos casos de divórcio no País

Os brasileiros estão se casando cada vez mais tarde, ainda que o número de jovens com menos de 20 anos que decidem juntar os trapinhos oficialmente continue crescendo. Assim como o de idosos, que também têm se decidido pelo casamento tardio com mais freqüência. Depois do papel assinado, porém, as separações sobrevêm - em média após 11,5 anos de vida em comum. Os rompimentos, no entanto, pelo menos nas estatísticas, estão em calmaria: houve menos casos. Esse é o retrato da situação familiar do Brasil revelado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ontem, no documento Estatísticas do Registro Civil, com dados dos cartórios relativos ao ano passado.

Em 2004, no momento de dizer sim, as mulheres tinham em média 27 anos e os homens, 30,4. Há uma década, elas tinham 24,2 e eles, 28,1. Ao analisar os dados, o IBGE viu que as mulheres permaneceram seis meses a mais na condição de solteiras, em relação aos homens.

Um dado interessante foi o aumento de casamentos civis. Foram 807 mil uniões, 7,7% a mais que em 2003. Não é uma tendência sociológica, como os dados podem levar a crer. Os brasileiros não estão optando mais pelo casamento oficial. Ao contrário, a taxa de nupcialidade (total de casamentos em relação à população), embora tenha crescido 5% no ano passado, ainda está bem abaixo dos índices registrados no início dos anos 90. Em 1994, esse índice era de 7,2 por mil pessoas com mais de 15 anos de idade. Permaneceu em queda até 1999, quando atingiu a marca de 6,6. Nos anos seguintes, houve novo período de redução, voltando a subir em 2003 (5,9) e em 2004, quando ficou em 6,2 casamentos por mil pessoas com mais de 15 anos.

Os 800 mil casamentos a mais do ano passado, em termos absolutos, formam a maior marca observada nos últimos 10 anos. Mas o IBGE atribui o aumento aos casamentos coletivos, promovidos por prefeituras e igrejas, para legalizar uniões informais.

Em que período da vida nos casamos? Para as mulheres, a incidência maior é na faixa entre 20 a 24 anos (30%); para os homens, entre 25 e 29 (31,5%). Mas o IBGE atesta uma tendência de precocidade - variação de 88% no número de casamentos entre jovens com menos de 20 anos, que hoje representam 18,8% do total. "Tive de adiar o sonho de fazer faculdade", diz a vendedora Bianca Ferreira Oliveira, de 19 anos, que se casou no ano passado e na segunda-feira passada descobriu que está grávida.

IDOSOS DIZEM SIM

Os cartórios presenciaram 3.396 uniões de pessoas com mais de 60 anos em 2004, 106% a mais do que em 2003. O casal paulistano Ary Augusto Teixeira, de 67 anos, e Joana Francisca de Oliveira, de 61, está nesse grupo. O recente casamento ocorreu depois de 33 anos vivendo "amigados". "Como agora já temos certeza de que não vamos nos separar, chegamos à conclusão que é era melhor casar", explica ele. "Vamos continuar juntinhos da silva", acrescenta ela. O casamento foi no cartório civil. Na igreja evangélica, o pastor fez a unção das alianças.

As frias informações vindas dos cartórios às vezes quebram o gelo e revelam um pouco do que acontece entre quatro paredes, especificamente no calor das discussões. Quando o assunto é separação, as mulheres têm se mostrado bem mais decididas a dizer basta. De acordo com as estatísticas, em 71,5% dos casos de separações judiciais não consensuais ocorridos, a iniciativa partiu da mulher. Ainda que em proporção menor, essa mesma situação ocorreu nos casos de divórcios, com as mulheres mantendo a maioria (52,2%) nos pedidos de processos de dissolução do casamento. "Foi a crise dos sete anos", diz a arquiteta Sílvia Scali, de 28 anos, que ficou casada de 1997 a 2004, explicando por que tomou a decisão de terminar o casamento. "Com a separação, você reaprende a viver. Vejo que tomei a decisão certa", conta a secretária Miriam Frigatto, de 40 anos, que pôs fim ao casamento de quase duas décadas no início deste ano.

Decidido por ela ou por ele, o fato é que tanto as separações judiciais como os divórcios registraram queda no ano passado, respectivamente menos 7,4% e menos 3,7%. Isso significa que, para 3,1 uniões formalizadas, 1 foi desfeita. Grande parte das separações judiciais (78,4%) foi consensual. Em 6 de cada 10 separações, o casal tinha filhos com menos de 18 anos. Em 90% dos casos, a mãe manteve a guarda dos filhos.

Um dado curioso: aconteceram 49 mil casamentos de divorciados com solteiras, mais que o dobro dos casamentos de divorciadas com solteiros (24 mil).