Título: CPI dos Correios aponta perdas inexplicáveis na Petros
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2005, Nacional, p. A11

Lucratividade de 2002 a 2004 foi inferior ao que o fundo obteria se fizesse investimento conservador

A Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás, ganhou de lucratividade, no período de 2002 a 2004, que coincide com a campanha eleitoral até o segundo ano do governo Lula, menos que ganharia se apostasse no mais conservador dos investimentos o DI-Cetip, operação que de tão ruim é apelidada no mercado com bom humor de investimento "papai-com-mamãe". A constatação foi feita por técnicos da CPI dos Correios após análise criteriosa sobre os números da Petros. Eles observaram que, apesar do baixo retorno das aplicações, o fundo ainda assim cumpriu a meta atuarial.

Os técnicos da CPI lembram que o jogo de perdas e ganhos dos fundos de pensão é resultado da diversidade de sua carteira de investimentos, que vão dos mais arriscados até aplicações conservadoras. Mas os números apresentados pela sub-relatoria dos fundos de pensão da CPI são impressionantes pelo volume dos ativos do fundo e a contrapartida do baixo rendimento auferido.

Em 2002, a Petros tinha em ativos R$ 16,8 bilhões e obteve rendimento de 15,7 %, menor do que teria auferido caso tivesse, na pior das hipóteses, colocado todo o dinheiro no fundo DI-Cetip. Em 2003, os ativos eram da ordem de R$ 19,4 bilhões, mas os rendimentos foram de apenas 17,11%. No mesmo ano, segundo dados da CPI, o conservador DI-Cetip foi de 23,25%, ou seja, seis pontos porcentuais acima do obtido pela carteira de investimentos da Petros naquele ano.

META

O pior aconteceu em 2004, segundo técnicos da CPI: para um total de R$ 22,7 bilhões em ativos, "a Petros teve retorno de 14,09%, portanto, inferior ao DI que rendeu só 16,17%". Um dos técnicos da CPI lembra que esse fraco rendimento é até aqui incompreensível. Em 2004, o PIB registrou um crescimento de 4,94%, o que torna ainda mais inexplicáveis as perdas registradas. "Com esse aumento expressivo do PIB, a taxa de retorno teria que ser superior aos 14,09%, mesmo sendo este número próximo da meta atuarial", lembrou um dos técnicos.

Em 2000 e 2001, anos que antecederam esse período, a Petros colecionava resultados acima do DI. Em 2000, por exemplo, tinha R$ 6 bilhões de ativos e apresentou rendimento de 24,08%, acima do DI que foi de 17,32%. Em 2001, para um total de R$ 7,4 bilhões de ativos, alcançou o espetacular retorno de 125,11%. Diante desses números, a CPI quer entender as razões que levaram a Petros ao baixo rendimento nos anos subseqüentes. Ainda segundo a CPI, os fundos de pensão de estatais apresentaram perdas, entre 2000 a 2005, de mais de R$ 700 milhões.

"MÁ-FÉ"

A Petros contestou todos os cálculos da CPI dos Correios. De acordo com os dados apresentados por Wagner Pinheiro, presidente do fundo, em 2002 a rentabilidade dos investimentos foi 20,4%; em 2003, 24,2% e em 2004, 20,4%. A maior diferença chega a 7 pontos porcentuais, em 2003, o que correspondeu a R$ 1,45 bilhão. "Não sei de onde os integrantes da CPI tiraram esses números. Só posso concluir que ou foi por desconhecimento, ou por incompetência, ou por má-fé", afirmou Pinheiro.