Título: Um festival de crateras entre Brasília e Minas
Autor: Rosa Costa e Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Nacional, p. A4

Fica bem perto de Brasília um dos principais exemplos da situação precária das estradas do País. Trata-se da BR-251, rota obrigatória para quem vai da capital federal para o noroeste de Minas. As péssimas condições da rodovia, em especial ao longo de 11 quilômetros na divisa entre Goiás e Minas, têm transformado em um inferno a viagem de motoristas. Centenas de buracos tomaram conta da estrada, obrigando quem passa por lá a desrespeitar qualquer lei de trânsito - inclusive andar na contramão -, além de reduzir a quase zero a velocidade. "Isso é um absurdo, uma vergonha. Um verdadeiro descaso público", desabafou o caminhoneiro Antônio Marcos, de 30 anos, que diariamente usa a estrada.

"Quem passa por aqui e depara com as péssimas condições da estrada rapidamente vai defender a privatização das rodovias. Já que o governo não tem competência para fazer (os reparos), é melhor pagar pedágio e continuar vivo", afirmou o caminhoneiro no fim da tarde de ontem, após passar pelo trecho esburacado mais um dia.

Também indignado com a situação da BR-251 - que no total tem 2.418 quilômetros de extensão e liga Ilhéus (BA) a Cuiabá (MT) -, o empresário Almir Gonçalves Borges recorreu à crise política para sustentar que o governo tem condições de recuperar as estradas: "Se o governo arrumar as estradas, vai acabar o dinheiro para o mensalão."

Proprietário de uma fazenda em Goiás, Almir também transita freqüentemente pelos 11 piores quilômetros da rodovia. "Só consigo passar por aqui porque tenho carro de rali", afirmou, a bordo de um Ford Eco Sport.

Nem a promessa do governo federal de recuperar as rodovias - anunciada na terça-feira - consola os motoristas. "Eu só queria que o presidente Lula tivesse a coragem de passar por aqui, mesmo de bicicleta", disse irritado o caminhoneiro Amos Abdala. Com 31 anos, há 3 transita diariamente pelo trecho da BR-251 entre o Distrito Federal e Goiás. Só no mês passado, conta, teve prejuízo de quase R$ 2 mil com a quebra de quatro molas do caminhão.

"Não dá para entender. O governo aumenta IPVA, seguro obrigatório. Mas não faz nada para melhorar a vida da gente. É uma vergonha", reclamou. A situação, segundo ele, piora a cada dia. Ao longo dos 11 quilômetros mais críticos da rodovia, já não há quase asfalto. Grande parte dos buracos chega a ocupar quase toda a rodovia, inclusive os acostamentos.

Nesta época do ano, observa Abdala, a situação fica mais complicada. "As fortes pancadas de chuvas de verão não permitem que a gente tenha idéia da profundidade dos buracos. Não se sabe, ao longo do percurso, se você ou o carro vão conseguir chegar inteiros ao final."