Título: 'PT é uma página virada em minha vida', diz Dirceu
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Nacional, p. A7

"O PT é uma página virada em minha vida." Essa frase, dita por um de suas mais importantes figuras, o homem que passou parte de sua vida ajudando esse partido a chegar ao poder - mas que também esteve na origem da maior crise de sua história -, o ex- chefe da Casa Civil da Presidência da República, José Dirceu, revela o nível das divergências internas do PT. Dirceu está em Paris ao lado do escritor Fernando Moraes, iniciando uma nova fase de sua vida, agora como advogado e escritor, preparando os depoimentos para o livro em que relata sua experiência de 30 meses na Casa Civil. De volta de Tarbes, no sul do país, onde passou o ano como hóspede de outro escritor, Paulo Coelho, o ex-ministro não considera o frio do inverno parisiense como um novo exílio.

"Eles tentaram me banir da vida pública , mas não conseguiram", diz ele sobre os que batalharam para sua cassação. Garante não ter mágoas de ninguém, nem mesmo de antigos companheiros de partido - inclusive do presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, mas reage sempre com estocadas quando obrigado a citar alguns nomes, por exemplo os dos gaúchos Tarso Genro e Raul Pont. "Ficar no PT para ouvir os discursos do Tarso e do Raul não dá...", ironiza, ao mencionar um eventual futuro na vida partidária só como militante.

"Os que me conhecem sabem que não tenho meio-termo e quando entro é para valer, para brigar , lutar , me impor", avisa o ex-ministro. "Senão, fico de fora. Como essas não são as condições atuais, estou chegando à conclusão de que o melhor é ficar de fora." Mas ele deixa uma porta entreaberta: "Só mudo de posição se me chamarem para a briga. Afinal, conto com o apoio da maioria do partido e o Tarso não representa 3%."

"Virei a página" , repete o ex-ministro, mas hesita em optar por um ano sabático em 2006, ano em que o presidente Lula deverá lutar em condições bem mais difíceis para garantir um segundo mandato. A seu ver, as chances de Lula dependem dos programas sociais, como o Bolsa Família. "Afinal, a própria mídia que o ignorou no início já está reconhecendo seu valor".

Dirceu se diz convencido, também, de que os tucanos não estão em boa posição. "Seu melhor nome, FHC, aparece em quarto lugar nas pesquisas", diz, com ironia, deixando de lado propositadamente os possíveis rivais José Serra e Geraldo Alckmin. Seja qual for o vencedor, diz ainda, terá dificuldades para governar sem uma reforma administrativa.

Ele não esconde suas preferências na disputa pelo governo paulista: "A imensa maioria dos que me apóiam é favorável à candidatura da Marta." A frase é um sinal de que suas relações com o senador Aluizio Mercadante, o outro interessado no cargo, não saíram ilesas da crise.

Finalmente, José Dirceu desmentiu a informação de que teria viajado de primeira classe para Paris e em companhia de sua esposa, Maria Rita. "Não vim com minha mulher e ninguém pagou minha passagem. Poderia ter vindo de primeira se quisesse, pois acumulei milhas suficientes." Segundo informou a TAM, o ex-ministro viajou de classe executiva.