Título: Lula ataca Congresso no discurso em Garanhuns
Autor: Leonêncio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2005, Nacional, p. A6

Após ser recebido com gritos de 'um, dois, três, Lula outra vez', presidente critica demora na votação de projetos: 'Aí é que não querem votar mesmo'

Em discurso durante inauguração de uma escola do Senai em sua terra natal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o comportamento do Congresso na votação de projetos de interesse do governo. No momento em que o público reagia a seu discurso com o refrão "um dois três, Lula outra vez", o presidente aproveitou para alfinetar o Congresso e a oposição. "Pelo amor de Deu , gente, se vocês ficarem gritando assim, aí é que eles não querem votar mesmo", disse Lula, referindo-se a projetos que enviou ao Congresso que não foram votados. Entre esses projetos, citou o que cria o Fundeb, o que institui a pré-empresa e o da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. "A gente não pode permitir que as eleições atrapalhem o desenvolvimento do País." Mais uma vez, ele atribuiu ao "jogo político brasileiro" as denúncias de corrupção contra integrantes de seu governo. "Todas essas infâmias e acusações que vocês vêem na televisão, vocês sabem como é o jogo político brasileiro. Como acho que Deus escreve certo por linhas tortas, haverá o dia em que o povo vai saber o que é o jogo político e o que é a verdade." Mas prometeu punição para os culpados. "Não tem perdão", disse. Para uma platéia de cerca de mil pessoas, afirmou que se levanta todos os dias com uma única certeza: "O presidente tem de ter calma, contar até dez; não tomar decisão precipitada, não sair batendo boca. A história julgará."

Também voltou a criticar o governo anterior ao explicar a decisão do governo de quitar a dívida de US$ 15,5 bilhões com o Fundo Monetário Internacional. "Aos 60 anos, tenho razões para dizer que nosso governo está longe para fazer tudo o que precisa ser feito, mas em 36 meses já fizemos mais que o outro governo em oito anos."

Após o discurso, que durou 35 minutos, Lula deu uma rápida entrevista. Indagado se preferia disputar a eleição de 2006 com o prefeito de São Paulo, José Serra, ou com o governador Geraldo Alckmin, afastou-se dos repórteres e gesticulou negativamente com a cabeça, mostrando desagrado com a insistência no assunto.

REFLEXÃO

O presidente disse estar com a consciência tranqüila e pediu que o povo reflita sobre o que ocorreu no cenário político nos últimos meses. "Acho que há um momento em que o povo brasileiro começa a fazer uma reflexão sobre tudo o que aconteceu, sobre o que foi verdade e mentira", disse. "No papel de presidente, tenho de continuar fazendo o que fiz hoje aqui."

Na entrevista e no discurso de improviso na solenidade, Lula ressaltou diversas vezes a importância do estudo e da qualificação profissional. Criticado por destacar que não precisou de diploma para chegar à Presidência, Lula, desta vez, preferiu apelar às mulheres para que incentivem seus filhos a irem à escola. A escola do Senai, estimada em R$ 3 milhões, tem capacidade para 240 alunos e começa a funcionar no próximo ano.