Título: Gil a artistas: 'Peçam minha cabeça a Lula'
Autor: Felipe Werneck
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2006, Nacional, p. A8

"Peçam minha cabeça ao presidente." Assim o ministro da Cultura, Gilberto Gil, reagiu à polêmica iniciada pelo poeta Ferreira Gullar e ampliada pela carta aberta em que Caetano Veloso diz que o ministério do ex-companheiro de tropicalismo está "a um passo do totalitarismo". Gil saiu em defesa do secretário de Políticas Culturais, Sérgio Sá Leitão, cuja resposta à crítica de Gullar motivou a manifestação de Caetano. "Digam, apontem, o que é totalitarismo no ministério? Totalitarismo? É vago, eu não sei o que é, me digam, eu também preciso saber", disse ao Estado, acrescentando que não há "nenhuma razão" para a saída do secretário. "O que é que Sá Leitão fez de errado? O que ele fez em nome do ministério que não esteja de acordo com a orientação do ministério? Por que não pedem a minha cabeça em vez de pedir a dele?"

Ele ressalvou que a polêmica faz parte do estado democrático. "Tá bom , tá ótimo." Caetano, na sua opinião, "está exercendo papel de cidadão" que acompanha o trabalho do ministério: "Vejo com bons olhos, (Caetano) não é como outros, que fazem críticas e ao mesmo tempo dizem que não acompanham o trabalho", disse, numa referência indireta a Gullar.

Gil disse que "sempre foi difícil" tirar privilégios - na carta, Caetano cita frase de Leitão, que se referiu aos críticos como "ex-privilegiados do cinema". "Eles estão dizendo que havia privilégios e que estamos acabando? Está errado? A idéia do ministério é que a política pública evite isso (o privilégio), que o edital, todos os modos democratizantes do processo decisório sejam adotados. Se está errado, me perdoem, eu não sei qual é o papel do governo. No nosso entender, o papel do governo é esse."

BARÕES

Sá Leitão afirmou ontem que é vítima de "campanha difamatória" de um grupo liderado pelo cineasta Luiz Carlos Barreto. "Havia acesso privilegiado aos cofres públicos, agora a política é democrática. Eles se sentem como ex-privilegiados, como se houvesse direito adquirido. Agora é tudo por editais", disse. "Há interesse de querer derrubar quem eles identificam como sendo adversário dos interesses particulares deles." Barreto não foi localizado para responder.

O secretário não criticou Caetano e acha seus argumentos "bons de debater". "Levar isso adiante agora só interessa a quem quer antecipar campanha eleitoral. Sabe o que que vai acontecer? Vai começar uma competição entre esses barões da cultura para ver quem é que vai bater mais no ministério. Para se colocar mais em oposição ao Lula", argumentou.

"Seria totalitário se tomássemos medidas usando o poder de Estado: não gostamos do Gullar, discriminamos o Gullar. Mas isso não está colocado, o Minc não fez e não fará nada disso", afirmou. "Não é porque o cara critica o ministério que vou passar a tratar ele como inimigo, agora eles são assim. Como rebati uma crítica, passaram a me tratar como inimigo."